Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
editorial

A Lava Jato e o marqueteiro

O publicitário João Santana, responsável pelas campanhas presidenciais de Lula em 2006 e Dilma Rousseff em 2010 e 2014, foi o peixe grande apanhado na rede da Operação Lava Jato na segunda-feira, quando sua prisão temporária foi decretada pelo juiz Sergio Moro. O publicitário, que estava na República Dominicana, voltou ao Brasil na terça-feira e foi preso assim que desembarcou em Guarulhos (SP), sendo imediatamente levado a Curitiba.

A Lava Jato vinha investigando supostas ligações entre Santana e a empreiteira Odebrecht, uma das que está no olho do furacão dos desvios na Petrobras. Segundo as investigações, offshores ligadas à Odebrecht transferiram US$ 3 milhões para o marqueteiro, que também teria usado offshores. Outros US$ 4,5 milhões teriam sido enviados a Santana por outro dos presos da vez: Zwi Skornicki, representante de um estaleiro e considerado pela Lava Jato um dos operadores do petrolão, tendo sido citado pelo ex-diretor da Petrobras Pedro Barusco em sua delação. O que coloca Santana ao alcance da Lava Jato é justamente a origem do dinheiro, que viria da pilhagem da estatal petrolífera.

A queda de Santana tem dois desdobramentos especialmente importantes. No primeiro deles, a Lava Jato chega ainda mais perto do ex-presidente Lula. Ele já estava enroscado com a divulgação da sua suposta ligação com um tríplex no Guarujá (SP) e um sítio em Atibaia (SP), ambos reformados por empreiteiras investigadas na Lava Jato. Segundo um relatório da Polícia Federal, Lula deveria ser investigado por “possível envolvimento em práticas criminosas” – referência a uma suposta ligação entre a Odebrecht e gastos para a construção de instalações do Instituto Lula “e/ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva”, continua o documento.

A prisão de João Santana afeta Lula e o processo contra Dilma no TSE

Enquanto as suspeitas se avolumam, Lula e o PT persistem no discurso vitimista, observado no programa de 10 minutos levado ao ar na terça-feira pelo partido na internet e na televisão. Sem citar os casos específicos dos imóveis, o vídeo apela para a surradíssima tese segundo a qual Lula é perseguido por mero preconceito contra sua origem e por ter trabalhado pelos mais pobres durante seu mandato – uma tese que dificilmente encontrará apoio entre quem está minimamente informado a respeito dos acontecimentos e sabe que, numa democracia, ninguém está acima da lei.

A outra consequência relevante da prisão de João Santana diz respeito ao processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, vencedora na eleição presidencial de 2014. A campanha conduzida por Santana e caracterizada pelo estelionato eleitoral cometido por Dilma teve momentos baixíssimos como o anúncio que associava a autonomia do Banco Central, defendida pela candidata Marina Silva, ao sumiço da comida na mesa do brasileiro. Dilma e Santana nada mais fizeram que cumprir o que a presidente havia dito muito tempo antes, que em tempo de eleição podia-se “fazer o diabo”.

Quanto à sordidez da campanha não há dúvidas, mas ela não é argumento para impugnação de chapa. No entanto, já havia algum tempo que se investigava uma possível ligação entre o petrolão e o financiamento da campanha de Dilma e Temer, e agora há a suspeita de que os repasses supostamente feitos a João Santana seriam pagamento de dívidas de campanha do PT. Moro já tinha enviado ao TSE documentos da Lava Jato, a pedido da corregedoria da corte eleitoral, e ainda afirmou que “seria talvez oportuno” que o tribunal ouvisse alguns dos principais personagens do petrolão, como Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. Já a defesa de Dilma vem tentando impedir que os documentos sejam usados como provas. Não seria nenhuma surpresa se os dados desta nova fase da Lava Jato fossem também incorporados ao processo no TSE.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.