Sob o lema "Reforma agrária: por justiça social e soberania popular", 17 mil representantes de assentamentos e acampamentos de 24 estados promoveram em Brasília o quinto Congresso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Durante cinco dias, demonstrando elevado grau de organização e logística, ficaram acampados em torno do Ginásio Nilson Nelson, onde ocorreram os debates, abordando os mais variados assuntos, do atual estágio da questão agrária, o papel do Estado, o governo do presidente Lula e a conjuntura política internacional.

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No fim do encontro foi divulgado um documento que, segundo os organizadores do congresso, servirá de base para as negociações com o governo. Ele também é dirigido à sociedade brasileira, como plataforma de alternativas para o movimento. Ou seja, um esforço para tornar o assunto reforma agrária importante para toda a população, não somente – como frisaram – para aqueles que não têm acesso à terra. Isso porque "a cidade também recebe os benefícios da agricultura e, então, é fundamental que façamos isso com a participação das sociedade urbana". A mensagem representa "o nosso desejo de que o Brasil se torne um país igualitário e soberano".

Um do ponto que chamou a atenção de imediato é o que trata do agronegócio, classificado pelo MST como "filhote" da união entre capital financeiro, grandes proprietários e o latifúndio, com forte impacto na vida dos pequenos produtores e dos sem-terra. Para o alto comando do movimento, o capital para a agricultura, que antes vinha do próprio setor, hoje procede das grandes instituições financeiras transacionais, que podem adquirir grandes áreas e "instituir uma determinada monocultura". Na visão de João Pedro Stédile, um dos coordenadores nacionais do MST, dentro desse modelo só sobram três espaços para o agricultor familiar: a favela, quando é expulso das grandes cidades, a aposentadoria rural e os "agrocombustíveis", estes "para os camponeses um pouco mais ricos que se inspiram nesse modelo". Como se sabe, o biocombustível tornou-se uma das grandes apostas do governo atual. Assim, defende o MST, há que se pensar no papel da reforma agrária também nesse quadro.

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Para dizer o mínimo, estamos diante de um proposta no mínimo utópica. Uma das respostas veio da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), uma entidade de respeito e seriedade. Para início de conversa, ou de resposta, o agronegócio não é exclusivo de grandes produtores, sendo responsável por 38% dos emprego no país – ou 12% da população economicamente ativa do país. E foi a partir desses dados que, a CNA, agora na intervenção da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da entidade, fixou posição, garantindo que o agronegócio é mais abrangente, ou seja, "aquele que produz o excedente, que ultrapassa a barreira da subsistência e coloca o produto à venda, se integra ao agronegócio como um todo". Já ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, saiu em defesa do governo, não sem demonstrar alguns desconforto, já que o Palácio do Planalto foi cobrado não apenas na questão da reforma agrária, mas também no que pode ser considerado a galinha dos ovos de ouro.