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O Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 10,25% para 10,75% ao ano. A Selic é a taxa básica de juros paga nos títulos públicos emitidos pelo governo e serve para balizar as demais taxas cobradas nos empréstimos bancários às empresas e às pessoas. Análises sobre as razões do BC foram divulgadas com os críticos de sempre afirmando que as autoridades monetárias agem como uma espécie de inimigos do crescimento econômico. Para os críticos, o argumento é que juros maiores reduzem o consumo e o investimento, puxando o Produto Interno Bruto (PIB) para baixo. Vista por esse lado, a afirmação não está errada, e o BC sabe que elevação na taxa de juros freia o ritmo do crescimento econômico. A pergunta que fica, então, é: por que o BC quer frear o crescimento?

O aumento do PIB depende, inicialmente, de que exista demanda para os bens e serviços produzidos, e o sistema produtivo somente reage em função da expansão do consumo, dos investimentos e das exportações, o que os economistas chamam de "de­­manda agregada". Elevações nos juros têm o efeito de frear a expansão da demanda agregada e é isso que o BC quer. As decisões do Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do BC que decide a taxa de juros, não são pautadas por maldade, mas sim pelas condições da economia e, sobretudo, pelo comportamento da inflação. O ponto principal na decisão é saber se o sistema produtivo tem capacidade de reagir produzindo tudo o que é demandado, em especial quando a economia está aquecida.

Ainda que seja desejável que o PIB cresça, a fim de oferecer mais bens e serviços à população para me­­lhorar o padrão de bem-estar social, o fato é que a estrutura produtiva do país tem seus limites e gargalos. Se a demanda continuasse crescendo no ritmo em que vinha, a oferta de bens e serviços não acompanharia, sendo esse o cenário considerado pelo BC como capaz de levar a uma oferta geral abaixo da demanda agregada e acabar colocando combustível na inflação. Volta e meia a população é confrontada com a dificuldade que a estrutura produtiva do Brasil tem para atender a elevações na demanda, como atestam os gargalos de infraestrutura apresentados no apagão de energia e no colapso no sistema aéreo. De forma geral, o mais sério limitador do crescimento da produção no país é conhecido: a precária situação da infraestrutura e a histórica falta de in­­vestimentos no setor. Sem investimentos de grande monta em energia, transportes, portos e aeroportos, o Brasil não tem como sustentar o crescimento acelerado e contínuo do PIB.

Além dos limites da infraestrutura, há a restrição industrial. Isso é, a indústria brasileira tem dificuldades em aguentar aumentos acelerados no consumo e no investimento. Quando a capacidade industrial não está totalmente ocupada e existe ociosidade de máquinas e equipamentos, um aquecimento na demanda pode ser respondido de forma relativamente rápida. Todavia, com a indústria trabalhando a carga quase plena, a resposta depende de novos e rápidos investimentos em fábricas, máquinas, equipamentos e em empresas de transporte, comércio e serviços em geral. Se isso não ocorre, elevações na demanda agregada acabam provocando inflação, tudo o que o governo não quer. A inflação reduz o poder de compra dos salários e joga por terra a tentativa de melhorar de forma consistente o padrão de vida das pessoas.

O BC, que é um órgão técnico composto de pessoas que entendem do assunto, tem o papel de jogar água fria na euforia do consumo quando os sinais de inflação surgem no horizonte da economia. Não se trata de ser ou não ser a favor do crescimento, mas sim de conhecer os gargalos e as limitações da economia e impedir que medidas demagógicas causem prejuízo ao sistema. Em vez de ficar discutindo se os homens do BC são ou não sensíveis ao crescimento, seria útil debater os argumentos do Copom, que ficam registrados nas atas das reuniões nas quais se decide a taxa básica de juros. O Brasil não debate suficientemente os longos argumentos que as atas do Copom registram e que estão disponibilizados a qualquer cidadão que queira consultar.

Aqueles que desejam servir ao país com alguma eficiência devem participar dos estudos e dos debates sobre as complexas questões da economia e as razões alegadas pelas autoridades monetárias. É razoável exigir que os políticos, os empresários e os líderes nacionais comecem a ler as atas do Copom e a discutir as análises e as conclusões que elas registram. Afinal, esses homens são responsáveis pelo sucesso das políticas públicas das quais participam votando ou influenciando de alguma forma.

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