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Editorial 1

Ameaça à paz internacional

O ataque da Coreia do Norte à ilha sul-coreana de Yeongpyeong, no Mar Amarelo, que causou a morte de dois militares e feriu outras vinte pessoas, elevou ao máximo mais uma vez o grau de tensão naquela região da Ásia. Tec­­nicamente, as Coreias ainda estão em guerra (o conflito de 1950 a 1953 terminou apenas com uma trégua, e não com um tratado de paz); e o bombardeio da última terça-feira foi um dos maiores ocorridos até agora. É o episódio mais grave desde o incidente que envolveu o ataque ao barco "Cheonan", em março, que matou 46 marinheiros sul-coreanos.

A reação dos Estados Unidos foi imediata. O Departamento de Estado anunciou que Washington planeja consultar aliados, inclusive a China, para decidir por uma resposta "medida e unificada" contra a Coreia do Norte, por suas "ações provocativas e extremadas". Os aliados ocidentais e as Nações Unidas foram unânimes em condenar o ataque. O presidente Lula, mais evasivo, declarou apenas que a posição brasileira é condenar qualquer forma de desrespeito à soberania de um país.

Essa nova ação militar repete uma estratégia política posta em prática na última década pelo regime de Pyongyang: a de fazer o mundo acreditar que, no horizonte internacional, paira o sombrio espectro da Guerra Fria. Como se ainda existisse, com todo o seu poderio, a antiga União Soviética e seus países satélites, dando resguardo a ações dessa natureza, de "aliados" contra o "imperialismo dos Estados Unidos e seus fantoches".

O artífice dessa política é o ditador Kim Jong-il, presidente norte-coreano. Militarista e autoritário, no poder desde 1994, ele substituiu seu pai, Kim Il-sung, fundador da República Popular Democrática da Coreia, no final da década de 40. Agora, o ditador está apresentando como sucessor o seu filho mais novo, Kim Jong-un, de 24 anos, como se a família fosse uma dinastia sagrada dos antigos impérios asiáticos.

Com a economia comandada pela mão de ferro de um partido único, os norte-coreanos vivem, por décadas, em uma situação de extrema penúria e fome. As condições de habitação, saneamento e saúde na capital Pyongyang e em seu entorno são deploráveis. Desde a fundação dessa chamada república, predomina um ambiente político de terror e de graves denúncias de violação dos direitos humanos.

O que deseja alcançar o ditador Kim Jong-il com essa agressiva política belicista, que está sacrificando vidas e ameaçando a paz internacional?

Antes do ataque ao barco "Cheonan", o ditador havia assombrado o mundo com uma ameaça nuclear. A Coreia do Norte havia assinado, em 1999, com os Estados Unidos, um acordo pelo qual o país abriria mão do seu programa nuclear em troca do envio de combustível. Contudo, na administração de George W. Bush, os EUA descumpriram sua parte do acordo. Desde então, diante de diversas ações nucleares ofensivas, o país vem sofrendo sanções do Conselho de Segurança da ONU. Até a China, principal aliada do regime, apoiou a implantação das últimas sanções, que vigoram desde 2006.

Esse fato levou a Coreia do Norte a acelerar o seu programa nuclear e, ao mesmo tempo, aumentar as hostilidades contra a Coreia do Sul. Segundo as fontes diplomáticas, Kim Jong-il busca pressionar Washington e o governo de Barack Obama para ter uma posição privilegiada numa futura mesa de negociações. Tanto para exigir o fim das sanções econômicas, a fim de melhorar as condições sociais do país, como para obter o reconhecimento diplomático em um possível processo de desnuclearização da região.

O que o ditador vai alcançar com todo esse belicismo insano, o mundo civilizado ainda não sabe. Mas tem certeza de que as forças que defendem a paz, sob a coordenação da ONU, usarão de todos os meios, diplomáticos e militares, para demover Kim Jong-il de suas intenções.

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