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Editorial

Apagão aéreo

Não apenas homenagens a Santos Dumont marcaram o ano do centenário do vôo do 14 BIS. Infelizmente. O país enfrentou a crise da Varig, um dos maiores símbolos da pujança brasileira, a tragédia do vôo 1907 com o Boeing da Gol, que matou 154 pessoas, e o chamado apagão nos aeroportos.

Nesta semana, a situação do tráfego aéreo e a crise na aviação civil foram levadas à discussão em audiências públicas no Congresso Nacional, com a presença do ministro da Defesa, Waldir Pires, e de outras autoridades. A primeira, ontem, no Senado, mobilizou as comissões de Infra-Estrutura, Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização Financeira e Controle e de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, deu o que poderia ser uma boa notícia: a crise estará sob controle até o final do ano. Ou seja, os passageiros não terão problemas nos feriados do Natal e de Ano Novo e nas viagens de férias. A garantia do brigadeiro foi endossada pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, ao reiterar "todo o esforço e empenho do governo" para normalizar a situação em dezembro.

Não é o suficiente, porém. O que se espera – e se exige – é uma solução de fato para os problemas, que são muitos, não se resumindo ao mais visível, a lamentável rotina de aeroportos com as salas de espera abarrotadas de gente, à espera de vôos que, quando ocorrem, registram monumentais atrasos. Um clima que arrasa a paciência dos usuários, sem falar dos prejuízos quanto à atividade profissional de cada um.

Deve-se esperar muito mais das audiências públicas e do grupo de trabalho criado para identificar as causas e apontar soluções, sob a coordenação do Ministério da Defesa e com representantes dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, da Agência Nacional de Aviação Civil, da Infraero, do Comando da Aeronáutica e dos setores civis envolvidos. Está em pauta, inclusive, a eventual desmilitarização do sistema de controle do tráfego aéreo, com a criação de um organismo civil para monitorar o transporte comercial. Trata-se, inclusive, de uma antiga reivindicação de toda a área de controladores.

É preciso agir com rapidez e determinação, em todas as frentes. Há motivos de sobra para isso, indo além do básico e essencial, a efetiva segurança de vôo. Isso porque a atual conjuntura projeta novos desafios pela frente. No ano passado, a aviação comercial brasileira registrou uma taxa de crescimento em torno de 17% em seu mercado doméstico – um recorde dos últimos 25 anos. A tendência é de que isso se mantenha em 2006. Mais ainda: o Brasil já conta com a segunda maior frota de aviação executiva do mundo. Acabar com os gargalos aéreos e os apagões nos aeroportos virou uma questão de Estado. Um efeito correlato: muitos investidores têm deixado de vir ao país por insegurança, e os que vêm, correm o risco de não deixar os aeroportos do jeito em que estão.

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