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Há ainda muito a se pôr em pratos limpos na Câmara de Curitiba, muito a se aperfeiçoar para que fatos tão lamentáveis quanto os registrados não se repitam

Deu-se na última segunda-feira mais um passo no processo de punição ao vereador João Cláudio Derosso, acusado de, à frente da presidência da Câmara Municipal de Curitiba por quase 15 anos, ter cometido atos afrontantes à probidade, à moralidade e à impessoalidade que se exige do homem público. Muito embora ações contra ele já tenham sido propostas pelo Ministério Público, ainda não julgadas pelo Judiciário, a pena que agora recebeu foi a de se ver forçado a se desligar do partido a que pertencia, o PSDB, antes que este procedesse a sua expulsão dos quadros da legenda.

Trata-se, pois, de uma punição que se esgota no campo político. Desfiliado da sigla, já não tem como concorrer à reeleição, apesar de lhe ser dada a discutível oportunidade de se manter vereador até o fim do mandato.

Não se pode minimizar a importância desse fato político, muito embora seja possível imaginar que, por detrás dessa atitude, os dirigentes partidários foram movidos, mais do que por razões de cunho moral, pelo interesse de reduzir os riscos políticos que a presença ativa de Derosso durante a campanha poderia impor ao projeto eleitoral que a sigla patrocina.

Entretanto – e aqui se justifica a afirmação de que a importância dos fatos ocorridos anteontem não deve ser minimizada –, é preciso reconhecer que a desfiliação e a consequente perda da possibilidade de reeleição não deixam de representar um efeito prático e concreto das denúncias de malversação de recursos públicos que se perpetraram ao longo da administração de Derosso na Câmara Municipal de Curitiba. Outros resultados deverão advir do trâmite que, a seu tempo, as ações judiciais poderão ainda produzir.

Sobreleva nesta análise a evidência do salutar poder que a opinião pública exerce sobre a política. Não fosse a imprensa a levantar os desmandos e a mobilizar as consciências e tudo teria permanecido ao gosto dos que, protegidos pelo silêncio e pelos instrumentos que cerceiam o acesso do público às informações, acostumaram-se a confundir as obrigações que o mandato popular lhes impõe com a tentação de usá-lo em seu próprio proveito.

Estariam, a partir do prolongado afastamento de mandato que se prenuncia para a carreira do ex-presidente, saneados todos os problemas denunciados contra a Câmara? O Legislativo Municipal se torna, a partir de agora, um oásis da moral e das boas práticas republicanas? A resposta é certamente negativa. Há ainda muito a se pôr em pratos limpos, muito a se aperfeiçoar para que fatos tão lamentáveis quanto os registrados não se repitam.

Aproxima-se uma nova eleição, oportunidade do povo exercer o direito e o dever de escolher bem os candidatos para representá-lo. Historicamente, os índices de renovação não são altos, mas nunca é demais nem inútil pregar em favor da responsabilidade do voto consciente – o caminho mais efetivo que a democracia nos oferece para melhorar nossas instituições.

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