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Editorial

Aproveitar o momento

A situação geral da economia brasileira até agora é positiva, com expansão próxima de 4,5% do Produto Interno Bruto, inflação sob controle e cenário internacional favorável. Mas as perspectivas futuras dão motivo para preocupação: o crescimento continua apoiado no mercado mundial de "commodities" e na elevação do consumo interno, com baixa produtividade dos fatores – apesar do "boom" de informatização. Para ocorrer na escala desejada, o investimento empresarial requer um sólido ambiente de negócios, incluindo racionalização administrativa e tributária e, sobretudo, desenvolvimento da infra-estrutura – cuja ausência ficou patente no acidente de avião ocorrido há uma semana.

Medidas como o crédito consignado, a redução da taxa básica de juros e os projetos do PAC contribuíram para melhorar o cenário, mas nota-se ausência de esforços firmes como o abandono das reformas microeconômicas lançadas pelo ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. Se não acelerar, o país acabará confirmando a previsão de agências de inteligência econômica, chegando a 2020 como o mais lento entre os BRICs (países emergentes de grande dimensão – Brasil, Rússia, Índia e China).

Na área de de energia, as normas ambientais por vezes impedem o pleno aproveitamento do potencial energético, sobretudo das usinas hidrelétricas. Na infra-estrutura de transporte, os sucessivos adiamentos atrasam as poucas obras em andamento. A queda de investimento na infra-estrutura do setor federal, documentada por um estudo de dois economistas entre 1995 e 2003, foi de 0,14% para 0,06% do PIB. Para comparação, os chineses aplicam até 5% do PIB em obras básicas: portos e ferrovias, viadutos e estradas de rodagem.

O secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, enxergou o problema na viagem que acaba de fazer pelo território brasileiro. O próprio Ciro Gomes, ex-ministro do governo Lula e deputado da base aliada, se queixou de que os projetos para a infra-estrutura não saíram do papel. Quanto às reformas a retomar, a primeira é a tributária, mas o quadro político opera contra, ante a instável coalizão governista e a situação do Senado – onde um presidente acuado bloqueia a agenda legislativa – além de fatores naturais ao processo federativo. Uma proposta séria só vingaria com forte convergência liderada pelo presidente da República, o que até aqui não aconteceu.

Outras mudanças – desburocratizar e modernizar a gestão pública – podem demorar ainda mais. Sem tais aperfeiçoamentos, já adotados em países competitivos, o Brasil continuará crescendo no modesto ritmo atual, que repete padrão de fases anteriores: a um período de forte expansão se seguiram ciclos de ajuste, necessários diante das restrições como a do suprimento de energia, a das contas externas ou turbulências locais – segundo admitiu o próprio ministro da Fazenda. Tudo isso ocorre em um cenário internacional que ainda exibe abundância de recursos, tanto de organismos multilaterais quanto do mercado financeiro global.

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