Depois de inúmeras tentativas de estender o processo de cassação pelo tempo que fosse necessário, o deputado paranaense André Vargas (sem partido) acabou condenado pelos seus pares no plenário da Câmara. Por 359 votos a favor, apenas um contra (de Zé Aírton, do PT cearense) e seis abstenções, Vargas teve o mandato cassado e, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, ficará inelegível por oito anos. Caso o processo não fosse concluído até o fim do ano, Vargas terminaria seu mandato normalmente, não teria como ser punido e poderia voltar a se candidatar já em 2016.
O estopim para a cassação de Vargas foi a sua ligação com o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato o deputado teria intermediado negociações entre um laboratório de propriedade do doleiro e o Ministério da Saúde, e escutas mostraram que Vargas teria usado um jatinho de Youssef para viajar com a família ao Nordeste. Perto do mar de lama que a Lava Jato vem descobrindo, esses pareceriam até delitos menores mas não é por isso que a Câmara deveria ser leniente nesse caso.
Quando essas ligações foram tornadas públicas, a reação inicial do PT foi a de defender seu parlamentar. O líder do partido na Câmara, Vicentinho, chegou a dizer que a opção pela renúncia ao mandato, levantada pelo próprio Vargas, era um caso de foro íntimo. Mas, quando o deputado fez sua escolha ficar no Congresso e lutar pela cadeira, respondendo a processo no Conselho de Ética , o PT não a respeitou como prometia, e começou a pressionar Vargas para que renunciasse. No fundo, estava em jogo o bem do partido, que poderia acabar manchado em ano eleitoral com a presença constante de Vargas no noticiário. Ficava claro que o deputado estrela ascendente do PT, mas não exatamente um membro do "núcleo duro" do partido não teria o mesmo tratamento dos mensaleiros condenados, aclamados como heróis por parcela considerável dos petistas e prestigiados no partido apesar de seu regimento determinar a expulsão de quaisquer filiados condenados "por crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado". Assim como no primeiro mandato de Lula o partido julgou necessário comprar apoio parlamentar com o mensalão, agora julgava necessário sacrificar um dos seus.
No fim, em vez de ser expulso (como chegou a ameaçar Rui Falcão, presidente da legenda), Vargas pediu a desfiliação. Poucos permaneceram ao seu lado depois disso um deles, o deputado José Mentor (PT-SP), foi o responsável pela última tentativa de protelar a definição sobre o destino de Vargas, ao declarar encerrada por falta de quórum a sessão de ontem, que votaria a cassação. Mas Mentor o fez duas horas antes de expirar o prazo regimental, e os trabalhos foram reiniciados pelo presidente da Câmara, o peemedebista Henrique Alves. Hospitalizado, Vargas não estava presente, e também não indicou defensores. Sua defesa foi lida pelo deputado Eurico Júnior (PV-RJ), que o fez "a contragosto".
A carreira do deputado não pode ser considerada pouco expressiva. Ele foi presidente do PT paranaense, secretário nacional de Comunicação do partido, e primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados. Foi nessa condição que ele protagonizou uma cena pela qual ficará marcado: o braço erguido, gesto tradicional dos mensaleiros, ao lado do então presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, durante a reabertura dos trabalhos do Congresso, em fevereiro deste ano. O próprio Vargas explicou, logo depois, que se tratava de "um símbolo de reação aos nossos companheiros que foram injustamente condenados". Mas Vargas não pôde saborear a bravata por muito tempo pouco depois surgiriam as denúncias que culminaram com a cassação de ontem.
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