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editorial

Armadilha venezuelana

“Frustrada” é um adjetivo leve para descrever a viagem de oito senadores brasileiros, em missão oficial, à Venezuela, na quinta-feira. Aécio Neves (PSDB-MG), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), José Agripino (DEM-RN), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), José Medeiros (PPS-MT) e Sérgio Petecão (PSD-AC) tinham como objetivo conferir a situação dos presos políticos venezuelanos, entre os quais estão líderes da oposição ao ditador Nicolás Maduro, como Leopoldo López e Antonio Ledezma. Não chegaram nem perto disso.

Primeiro, o avião da Força Aérea Brasileira ficou retido por uma hora no aeroporto de Caracas. Só então os senadores foram recebidos pelas mulheres de López e Ledezma e pela ex-deputada Maria Corina Machado, que teve seu mandato parlamentar cassado irregularmente em 2014. O ônibus em que embarcaram, com destino à prisão onde López está detido, em greve de fome, acabou preso no tráfego e cercado por milícias chavistas, aos gritos de “fora! Fora! Chávez não morreu, se multiplicou”, em referência ao falecido ditador Hugo Chávez. Pelo Twitter, os senadores narraram em tempo real a tentativa de agressão. Sem a menor condição de chegar à penitenciária, não restou outra alternativa a não ser retornar ao aeroporto e voar de volta a Brasília.

É inacreditável que ainda haja quem se disponha a defender o regime bolivariano de Chávez e Maduro, ou quem o considere democrático

O governo criou as mais diversas alegações para o insucesso da missão brasileira, mas um membro da Polícia Nacional Bolivariana admitiu, à reportagem do jornal Folha de S.Paulo, que houve uma ação orquestrada para barrar os brasileiros. “Quando vem uma autoridade estrangeira, nós os escoltamos em fluxo, contrafluxo ou em qualquer circunstância”, disse, dando a entender que os brasileiros haviam caído em uma arapuca montada pelo governo chavista. Mesmo assim, no Brasil houve quem fizesse graça da situação, como o deputado federal Zeca Dirceu, do PT paranaense, que escreveu no Twitter: “Senadores brasileiros da oposição vão à Venezuela passear e fazer onda com dinheiro da população e se dão mal”.

Diante de tamanha violência, é inacreditável que ainda haja quem se disponha a defender o regime bolivariano de Chávez e Maduro, ou quem o considere democrático. Mas tais pessoas existem e estão instaladas nos altos escalões de Brasília. Só isso explica a reação apática do governo brasileiro ao episódio. No início do ano, quando a Indonésia executou o brasileiro Marco Archer, condenado por tráfico de drogas, Dilma Rousseff chamou de volta o embaixador brasileiro no país asiático, demonstrando seu desagrado. Mas, quando senadores em missão oficial (ou seja, representando um dos poderes da República) são ameaçados em outro país, o máximo que se ouve do governo é uma nota inócua do Itamaraty. A diferença no tratamento de um e outro caso é gritante e só se explica pela enorme afinidade entre o bolivarianismo venezuelano e o PT, que não faz questão de esconder suas tendências totalitárias, como se viu no mais recente congresso do partido.

Diante disso, chega a ser uma piada de péssimo gosto o pedido, aprovado pelo Senado ainda na quinta-feira, de criação de uma comissão externa para avaliar a situação da Venezuela. Não tanto pelo seu teor, mas pelos seus signatários – Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), Roberto Requião (PMDB-PR), Randolfe Rodrigues (PSol-AC), Lídice da Mata (PSB-BA) e Lindbergh Farias (PT-RJ) –, que ainda por cima alegam que os senadores que viajaram a Caracas não eram isentos e imparciais. Ora, e desde quando integrantes de partidos defensores do chavismo teriam essa isenção? Seriam eles, adeptos incondicionais do bolivarianismo, as pessoas ideais para ir à Venezuela e dar seu parecer sobre as flagrantes violações de direitos humanos e liberdades democráticas que lá ocorrem?

Por muito menos o Paraguai foi suspenso do Mercosul, em uma manobra de Dilma, Cristina Kirchner e Pepe Mujica para permitir o ingresso da Venezuela, um país que já desrespeitava as cláusulas democráticas do Mercosul desde antes da adesão e, depois disso, seguiu endurecendo seu regime. Os senadores de oposição anunciaram a intenção de conseguir o desligamento da Venezuela; uma iniciativa louvável, mas natimorta, pois, para isso, precisarão do governo brasileiro, justamente um dos grandes apoiadores da ditadura de Maduro.

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