O presidente Jair Bolsonaro e o Centrão conseguiram uma vitória importante na noite de segunda-feira, dia 1.º. Seu candidato à presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), venceu a disputa já no primeiro turno, com 302 votos, mais que o dobro do segundo colocado, Baleia Rossi (MDB-SP), que tinha o apoio do até então presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e de um bloco de partidos que incluía legendas mais à esquerda no espectro político. Na verdade, só mesmo aqueles diretamente envolvidos com o grupo vencedor têm motivos para comemorar, pois não é nada animador para o país ver no comando de uma das casas do Congresso Nacional alguém que é réu por corrupção em duas ações no Supremo Tribunal Federal.
A disputa começou bem mais acirrada do que o resultado final demonstrou e, se Lira conseguiu uma vitória folgada, é porque o Planalto usou o argumento favorito de dez entre dez presidentes da República em situações como esta: a liberação de emendas parlamentares ou recursos para obras e investimentos nos redutos eleitorais dos “indecisos”. De acordo com uma planilha obtida pelo jornal O Estado de S.Paulo, R$ 3 bilhões do Ministério do Desenvolvimento Regional foram colocados à disposição de 285 parlamentares – deputados e senadores – para que escolhessem o destino do dinheiro.
Que Lira atuará como escudeiro de Bolsonaro parece evidente. O que mais o novo presidente da Câmara será capaz de entregar?
Apoiadores do presidente Bolsonaro dirão que isso nada mais é que lutar com as armas que estão à disposição. Mas não há diferença alguma entre essa troca de apoio por verba para redutos eleitorais e aquilo que foi feito, por exemplo, quando Dilma Rousseff usou um decreto para condicionar uma liberação de verbas à aprovação de um projeto que lhe permitia dar um “golpe fiscal” em 2014; ou o balcão montado por Lula em Brasília para minar o apoio ao impeachment de Dilma, tanto entre os deputados quanto entre os senadores, usando emendas parlamentares e cargos; ou a negociação de postos de segundo e terceiro escalões no próprio plenário da Câmara enquanto se desenrolava a votação da primeira denúncia contra Michel Temer, em agosto de 2017.
O que era imoral antes continua sendo agora. Tanto é assim que, diante do fato de a liberação dos R$ 3 bilhões ter sido lembrada por vários dos candidatos no tempo que tiveram à disposição na noite de segunda-feira, restou ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) recorrer à falácia do tu quoque, que consiste em desviar o foco mostrando que o mesmo comportamento já ocorreu em outras ocasiões, inclusive da parte dos que agora o criticam: “A oposição pagou o mensalão, o petrolão, não tem moral para nada”, afirmou a jornalistas pouco antes da sessão. É verdade que o petismo, ainda que não tenha inventado a corrupção ou o toma-lá-dá-cá, elevou essas práticas ao estado da arte, e atacar estratégias das quais o partido abusou no passado sem ter feito a devida autocrítica cheira a hipocrisia; mas, como o proverbial relógio quebrado que acerta as horas duas vezes por dia, a crítica à maneira usada pelo Planalto para angariar votos a Lira tem fundamento, venha de quem vier.
Que Lira atuará como escudeiro de Bolsonaro, livrando-o de qualquer incômodo na forma de um processo de impeachment, parece evidente – a não ser que o Centrão fareje alguma fraqueza e a use para se tornar o parceiro mais forte da relação, exigindo mais e mais do presidente para manter sua lealdade, como ocorreu com Temer. O que mais o novo presidente da Câmara será capaz de entregar? Dado o histórico de Lira, há pouca ou nenhuma esperança de ver prosperar a pauta anticorrupção – e continua a ser inexplicável a preferência de Bolsonaro por alguém que representa o oposto de parte importante do ideário que o levou à Presidência em 2018. Restam os outros temas importantes: Lira conseguirá, por exemplo, destravar a pauta liberal e articular seu grupo em torno da aprovação das reformas macroeconômicas, dos marcos legais, das privatizações? Fará andar a pauta de costumes, que Rodrigo Maia sufocou por decisão unilateral ao longo dos últimos dois anos? Se fizer tudo isso – e, para o bem do país, é o que esperamos que ocorra –, ao menos algo de bom terá advindo desta eleição tão decepcionante.
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