Irresponsabilidade, brincadeira com a democracia, argumentos bisonhos e infantis. Esses foram alguns dos qualificativos acertadamente dados ontem à decisão do presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular a votação do impeachment naquela casa legislativa. A tentativa, inútil, serviu apenas para tumultuar o processo e criar um clima de ilusória insegurança jurídica.
A artimanha do parlamentar é tão estapafúrdia que certamente irá entrar para o anedotário da República. O processo do impeachment na Câmara respeitou o direito de ampla defesa, constituiu-se em ato jurídico perfeito e foi regularmente encaminhado ao Senado. Ademais, a decisão de seguimento do impeachment foi dada por 367 votos e a medida unilateral de Maranhão não tem respaldo algum para afastá-la. Não há possibilidade de anulação. De tão ridícula não merece ter mais tinta desperdiçada com comentários a seu respeito.
O desatino de Maranhão foi tamanho que pregou um susto no mercado financeiro
Felizmente a cúpula do Senado agiu rápido e conseguiu desmantelar uma operação que teve sua origem no Palácio do Planalto. Antes de cometer o absurdo, o deputado-trapalhão se reuniu duas vezes com o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. Uma na sexta-feira (6); outra, na noite deste domingo (8). E teve como conselheiro o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), com quem viajou de avião para Brasília na tarde de anteontem e que teria prometido ao parlamentar um cargo em seu governo e um lugar na chapa como candidato ao Senado em 2018.
Com o fracasso da bizarra tentativa de governistas em tumultuar o rito, a votação da admissibilidade do processo de impeachment deve ocorrer na próxima quarta-feira (11). Isso não significa, entretanto, que novas investidas surreais deixarão de ser tentadas. Há a possibilidade de o governo recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), num derradeiro esforço para atrasar o processo.
O advogado-geral da União evitou ontem dizer que vai ao Supremo tentar reverter a decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os senadores do PT, entretanto, declararam que vão ao STF na esperança de anular a decisão do peemedebista. Mas a tendência é que tal ato apenas resulte em mais desgaste para um governo moribundo. Afinal, é bastante improvável que a essa altura o Supremo se renda a um expediente tão manhoso, obra irresponsável de chicaneiros.
O desatino de Maranhão foi tamanho que pregou um susto no mercado financeiro. Próximo do meio dia, o dólar subiu 4,82% e a Bovespa teve queda de 3,5%. É interessante notar que o mercado, com o passar das horas, percebeu que a medida do deputado era errática, inconsistente, e, a partir dessa correta leitura, foi voltando à normalidade. Mesmo assim, a trapalhada governista fez a Bovespa fechar em queda de 1,41% e o dólar encerrar o dia com alta de 0,61%.
O efeito “Maranhão” sobre a economia é exatamente o oposto do que o país precisa. A sociedade brasileira está farta de comportamentos desastrados e inconsequentes arquitetados pelo governo e que têm causado sérios danos às finanças da nação. No cenário atual, protelar o processo do impeachment só vai contribuir para piorar a conjuntura econômica. O país precisa rapidamente voltar à normalidade institucional e esse caminho passa pela ágil conclusão do processo de impeachment.
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