As quase três semanas de palestras, reuniões, debates, conchavos e até de ruidosas manifestações de protesto certamente não foram suficientes para resolver as grandes questões que afetam o meio ambiente planetário mas não há dúvida de que a realização em Curitiba das Conferências Mundiais de Biossegurança e Biodiversidade, que se encerram neste domingo, foram no mínimo produtivas no sentido de deixar um alento. Com elas, a ONU mais uma vez demonstrou sua boa vontade e seu esforço para diminuir divergências e reduzir conflitos de interesse em assuntos que envolvem o futuro da humanidade e sua presença na Terra.
Numerosos e complexos temas foram tratados ao longo das conferências por representantes credenciados de 174 países. Alguns desses temas são de interesse direto do Brasil um país cujas condições ambientais e de biodiversidade o colocam na privilegiada condição de ter sob seu domínio soluções universais como o são, por exemplo, a riqueza florestal da Amazônia, da qual depende a renovação e a qualidade do ar que 6 bilhões de terráqueos respiram.
Defender a megadiversidade brasileira, a riqueza incomensurável de seus recursos naturais, não é de interesse tão somente tupiniquim, mas obrigação de todas as nações especialmente das grandes industrializadas, aquelas que mais prejuízos causam ao meio ambiente com suas venenosas emissões poluentes. Portanto, há que haver contrapartidas à altura do sacrifício econômico e social que nos impomos ao preservar nossos recursos naturais. Não que não devamos fazê-lo também por interesse próprio, mas é evidente o dever das demais nações que auferem dos benefícios que nossas condições lhes proporcionam.
O Tratado de Kyoto, também patrocinado pela Organização das Nações Unidas na década de 90, foi um avanço significativo nessa compreensão. Seus signatários se comprometeram a reduzir a emissão de gases poluentes e, ao mesmo tempo, a investir em projetos de caráter ambiental em países megadiversos. Uma espécie de compensação justa e responsável que precisam conceder enquanto, mais por motivos econômicos do que tecnológicos, não eliminam ou reduzem a níveis suportáveis a poluição que produzem. Os Estados Unidos, no entanto, o maior poluidor do planeta, se recusa a aderir ao tratado, o que demonstra a distância em que ainda nos encontramos do estágio ideal de conscientização.
As conferências realizadas agora em Curitiba abordaram essa questão e espera-se que de suas conclusões se expanda, com rigor e velocidade ainda maiores, a consciência universal de que países megadiversos como o Brasil não são os únicos responsáveis pela qualidade da vida no globo.
Como em todo evento do gênero, viu-se também aqui a expressão de muitos radicalismos, muito próprios dos movimentos de defesa ecológica. Felizmente, tais radicalismos foram contidos pelo bom senso e evitou-se, por exemplo, que se adotasse a curtíssimo prazo a obrigação de segregar e identificar os organismos vivos geneticamente modificados destinados à exportação. Se, em tese, esta é uma providência de respeito aos consumidores, de outro não levaria em conta as dificuldades técnicas e logísticas dos países exportadores em sua maioria emergentes para cumpri-la. E nem atenderiam a seus interesses econômicos e às pesadas repercussões sociais que sofreriam. Venceu a sensatez, e a questão foi adiada para 2012.
Curitiba orgulha-se de ter sediado as conferências da ONU e de lhes ter dado condições para que obtivessem o êxito possível na discussão de temas tão polêmicos.