As eleições de ontem, no Peru e na Itália, marcam o mês, nesses dois países próximos ao Brasil: o primeiro, por sua vizinhança na América do Sul; o segundo, pelo vínculo populacional: 46% dos imigrantes recebidos em nosso país eram italianos. Ainda, muitos brasileiros de origem peninsular – inclusive no Paraná – votaram ou foram candidatos no pleito da Itália. Mas enquanto a democracia do país europeu se mostra consolidada, entre os sul-americanos a rodada eleitoral encerra riscos.

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É evidente ter ficado para trás a polarização da época da Guerra Fria, que favorecia a emergência de governos autoritários de raiz castrense. Hoje a ameaça de intervenção militar foi substituída por um autoritarismo de feição contemporânea: o golpe com "cara democrática" efetivado em pleno processo eleitoral, por candidatos de extração populista que se valem de instituições fracas para obter um mandato a partir do qual mudam as "regras do jogo".

Esse padrão, presente em países próximos num passado recente, pode se repetir no Peru, onde o candidato nacionalista Ollanta Humala disputou o primeiro turno realizado ontem. Ex-militar que participou da sucessão de rebeliões que ajudaram a encerrar o mandato de Alberto Fujimori, na década passada, ele se ligou ao discurso extremado do presidente Hugo Chávez da Venezuela, ao ameaçar a desapropriação das explorações minerais do país, dissolver o Congresso e reescrever a Constituição para ampliar os poderes presidenciais.

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A situação eleitoral no país andino estava indefinida no fim da campanha, porém mesmo não tendo ganhado desde logo a Presidência, o líder nacionalista pode vencer no segundo turno. Isso colocaria o Peru dentro de um arco de dirigentes à esquerda, composto por Chávez na Venezuela e Evo Morales na Bolívia – o que levanta preocupações entre empresários, investidores e governos estrangeiros.

O Brasil está imune à recaída nesse modelo de democracia autoritária devido à experiência recente com o regime conduzido pelos militares. Tanto que o atual governo Lula no geral tem se pautado pelo respeito à normalidade constitucional, salvo alguns gestos prontamente repelidos pelo vigor do pluralismo da sociedade – a poliarquia democrática a que se referia o professor Robert Dahl.

De igual modo o México se encaminha para uma eleição geral em julho, onde o modelo pluralista também se sustenta, após superar em anos recentes o regime de partido dominante do PRI. A modernização das instituições mexicanas se beneficiou ainda do estreitamento de laços com seus vizinhos da América do Norte, após a assinatura de um tratado de integração comercial.

Na Itália, o modelo parlamentarista concentra as atenções nos candidatos a primeiro-ministro, com a disputa equilibrada entre o atual premier Silvio Berlusconi e o professor Romano Prodi. Essa observação do cenário próximo, com suas lições e limitações, nos leva a valorizar a democracia, desde sempre a melhor fórmula para canalizar as aspirações da sociedade.