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Nervosismo, decepção e desconfiança. As três palavras resumem o sentimento de analistas do mercado financeiro, em relação à nota publicada pelo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, um dia antes de a instituição anunciar uma decisão sobre a taxa básica de juros. Na ocasião, Tombini afirmou que serem significativas as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), que indicam uma piora da economia brasileira. Pelas projeções do FMI, o Brasil terá uma retração econômica de 3,5% no PIB neste ano e ficará estagnado em 2017 – estimativas pessimistas se comparado com o que o mercado vinha até então trabalhando, de contração de 2,99% do PIB neste ano e melhora de 1% em 2017.

A nota chama a atenção por seu ineditismo. Em 20 anos de existência do Comitê de Política Monetária (Copom), não há registro de pronunciamento de um presidente do Banco Central durante suas reuniões. Além de uma novidade no formato de comunicação da autoridade monetária com o mercado, a carta contradiz o que vinha sendo afirmado por diretores do BC e pelo próprio Tombini.

A credibilidade é um dos fatores capazes de fazer com que as expectativas de inflação se comportem da maneira que a autoridade monetária deseja.

O BC passou os últimos 40 dias construindo a tese de que é necessário elevar a taxa básica de juros para fazer o IPCA convergir para dentro do intervalo da meta de inflação – o teto superior é de 6,5%, enquanto o mercado já projeta um índice de 7%. Ao mudar de súbito sua comunicação com o mercado, Tombini causou um ruído desnecessário, mexeu com preços de ativos e taxas de juros e, pior, deu margem para rumores de que teria conversado com a presidente Dilma Rousseff sobre a política monetária.

O comunicado foi interpretado por muitos como um pretexto para que o Banco Central tomasse uma decisão mais suave na alta dos juros, acatando os desejos do governo federal – e do Partidos dos Trabalhadores –, que não escondem a vontade de que a instituição seja mais leniente na condução da política econômica. Um pretexto, ressalte-se, desnecessário. O debate sobre a necessidade ou não de uma elevação dos juros está aberto, com economistas inclusive da corrente mais ortodoxa defendendo que o benefício da taxa mais alta sobre a inflação não compensa neste momento o custo de uma desaceleração ainda maior da economia.

Com a decisão de manter a taxa de juros em 14,25%, o BC vai em direção oposta à que vinha apregoando. Passa a mensagem de que o combate à alta da inflação não é mais prioridade e faz o mercado ajustar suas projeções, que agora prevê alta da Selic no futuro e dificuldades para a autoridade monetária chegar ao centro da meta inflacionária em 2017. Após o anúncio da manutenção da taxa de juros, analistas do mercado financeiro avaliaram que a decisão do BC teve o efeito de arranhar a imagem da instituição, que aparenta ter se curvado à pressões políticas. O resultado é a perda de credibilidade em suas comunicações futuras.

Para a conquista da estabilidade da moeda, o Brasil contou com o aperfeiçoamento da comunicação do Banco Central com o mercado. Sua credibilidade é um dos fatores capazes de fazer com que as expectativas de inflação se comportem da maneira que a autoridade monetária deseja. Mais descuidos como o desta semana poderão custar ao país um tempo mais longo longe de sua meta e, por consequência, da normalização da economia.

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