Nesta sexta-feira, o Congresso Nacional retoma seus trabalhos com a posse dos parlamentares eleitos em outubro de 2018 e as eleições para as Mesas Diretoras de Câmara e Senado, com vários pré-candidatos se apresentando para a disputa em cada casa legislativa. É no Senado que estão os maiores riscos para o país, com a possibilidade de que Renan Calheiros (MDB-AL) seja eleito para um mandato de dois anos. No entanto, o senador, que até pouco tempo atrás vinha trabalhando em articulações, tendo até visitado o ministro Paulo Guedes para tentar passar uma imagem de alinhamento com o governo, anunciou que estava fora do páreo. Ato contínuo, Simone Tebet (MDB-MS) se lançou candidata.
Quando se trata de Calheiros, no entanto, todo cuidado é pouco. Diversos senadores reconheceram publicamente que a pressão popular, contrária ao alagoano, foi ouvida em Brasília. O recuo pode muito bem ser uma estratégia do senador para tirar o nome dos holofotes e fazer arrefecer a mobilização do eleitor, enquanto continua buscando votos na surdina, para então ressurgir no dia 1.º, já que a formalização das candidaturas só ocorre no dia da eleição propriamente dita – até lá, só existem pré-candidatos. Outra possibilidade é a de que Calheiros já tenha em vista um “prêmio de consolação” no qual possa continuar exercendo poder, como o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), por onde passam todos os projetos que tramitam no Senado.
Os partidos que pleiteiam o comando de uma casa legislativa precisam ter bons quadros
Do currículo de Calheiros e de suas posições políticas recentes, como a adesão ao “Lula livre”, já tratamos extensivamente em outras ocasiões, e por isso basta dizer, neste momento, que alguém com tal perfil não tem lugar nem na presidência, nem na Mesa Diretora, nem no comando de comissão alguma do Senado. Elevar o alagoano a alguma posição de destaque não condiz com todo o anseio de renovação política demonstrado pelo brasileiro nas urnas em outubro do ano passado, além de representar um risco para a agenda econômica e social do presidente Jair Bolsonaro.
Por isso, é com muita preocupação que se deve enxergar a torcida do governo para que Calheiros seja o candidato do MDB – o raciocínio parte da premissa de que a rejeição ao alagoano facilitaria a vitória de outro candidato, o que seria mais difícil se os emedebistas lançassem Simone Tebet, um nome bem mais palatável. Essa aposta é arriscadíssima, ainda mais quando a percepção corrente é a de que o voto secreto beneficiaria Calheiros, e por isso precisa ser abandonada.
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Infelizmente, Tebet também já ameaçou o governo, insinuando que, se o Democratas lançar candidato – o nome cotado é o de Davi Alcolumbre, do Amapá –, o MDB poderia enxergar o movimento como interferência do governo, já que o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, é do DEM. Como resultado, o MDB estaria disposto a atrapalhar a vida de Bolsonaro no Senado.
A ameaça de Tebet parte do pressuposto de que o MDB se enxerga como “dono” da presidência do Senado, por ter a maior bancada na casa. De fato, essa tem sido uma tradição no Congresso, mas ela não é uma carta branca para que se indique qualquer um, desde que seja membro desta ou daquela legenda. Os partidos que pleiteiam o cargo precisam ter bons quadros, pessoas com boas credenciais no campo ético e compromisso com as reformas de que o Brasil precisa. Que nesta sexta-feira a velha política saia derrotada já no momento do lançamento das candidaturas, para que não corramos o risco de colocar em posições de destaque parlamentares que não estão qualificados para tal.
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