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editorial

As razões do desemprego

 | Marcos Santos/USP Imagens
(Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Ao chegar o fim deste ano, a população do Brasil terá atingido 210 milhões de habitantes, metade em condições de trabalhar. Lamentavelmente, o desemprego aberto atingiu 13,7 milhões de pessoas em março passado, equivalente a 13,1% de toda a força de trabalho, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo IBGE. Embora a tendência se explique em parte pela sazonalidade e a taxa seja inferior à registrada no mesmo período do ano passado, o resultado levantou dúvidas sobre a vitalidade da recuperação econômica e acendeu o alerta para a necessidade de estabilidade política e reformas mais robustas.

Não se ignora que, na recuperação de uma grave recessão, os níveis de emprego sejam os últimos a subir, mas o país tem urgência de fazer a economia crescer, sem o que não reduzirá a pobreza e jogará fora a possibilidade de, daqui a algumas décadas, sair da condição de nação subdesenvolvida e com altos índices de miséria. Analistas internacionais têm repetido que, para sair de vez da recessão e iniciar uma fase de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil precisa recuperar a normalidade política, a estabilidade do setor público, o equilíbrio das contas do governo e, principalmente, fazer reformas que o tempo tornou necessárias – como a reforma da previdência e a reforma tributária.

Sem primeiro recuperar a normalidade política e reencontrar um trilho para o governo, não há como incutir confiança nos investidores nacionais e estrangeiros suficiente para levá-los a tomar decisões de investimento em negócios no país e expandir o setor produtivo privado. Em ano eleitoral, normalmente o quadro é agravado pelo adiamento de decisões de consumo e investimento pelos atores econômicos, mas desta vez a incerteza parece ser ainda mais aguda pela falta de clareza que se desenha no cenário eleitoral. Com o atual quadro de mazelas de uma crise política prolongada, cuja conta não pode ser jogada nas costas dos esforços de combate à corrupção, não é estranho imperarem tais níveis de desconfiança e até pessimismo.

O Brasil precisa recuperar a normalidade política, a estabilidade do setor público, o equilíbrio das contas do governo e fazer reformas necessárias

É preciso frisar, por outro lado, que todos os dados e análises sérias mostram que, mesmo superados os impasses imediatos – que já cobram um preço alto demais dos quase 14 milhões de desempregados –, o caminho para um crescimento econômico que sustente o desenvolvimento brasileiro passa necessariamente por uma reforma da previdência que equacione o déficit fiscal, uma reforma tributária que dê racionalidade à arrecadação, investimentos em infraestrutura que destravem o potencial reprimido do capital do país e uma reforma educacional que aumente a produtividade do trabalhador brasileiro, estagnada há décadas. Sem isso, continuaremos a viver de voos de galinha.

Até o governo comunista chinês entendeu isso e vem adotando várias estratégias e políticas para mostrar que a China garante estabilidade jurídica e as bases das empresas privadas, sobretudo o direito de lucro e de propriedade. Quando um grupo empresarial estrangeiro afirma que, entre Brasil e China, a escolha para realizar seus investimentos recai sobre a China, é hora de concluir que ou este país conserta suas tragédias políticas e econômicas, ou seguirá sendo pobre, atrasado e violento. Esse não é, nem precisa ser, o destino inexorável do Brasil.

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