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| Foto: Nicholas Kamm/AFP

A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos causou furor em todo o mundo por várias razões. O eleito fez sua carreira fora da política e dos partidos, enriqueceu como um empresário de sucesso, tornou-se popular como apresentador de programa de televisão e tinha tudo para não ser bem-sucedido na intenção de ocupar a presidência do país mais importante do planeta. Como se isso não bastasse, Trump se esmerou em desafiar a lógica convencional, não se preocupou em ser politicamente correto, falou tudo o que lhe veio à mente, criticou situações sociais consideradas tabus – a exemplo da questão dos imigrantes, a fronteira com o México e a expulsão dos residentes ilegais –, não se incomodou em atacar segmentos que poderiam tirar-lhe votos e pregava medidas para proteger empregos no país, mesmo à custa de desfazer acordos e contrariar interesses de nações parceiras.

Trump foi a antítese do político convencional, cuja base do que fala é conquistar votos e ganhar a eleição, ficando em segundo plano a explicitação clara do que pensa e das reais medidas de governo. Trump não foi levado a sério quando desafiou a convenção do Partido Republicano e disputou a indicação como candidato do partido à presidência dos EUA. Apesar de tratado com indiferença, ele atropelou todos os postulantes internos do partido e conseguiu ser o indicado para disputar contra Hillary Clinton. O Partido Democrata comemorou e, desde o começo da campanha, os aliados de Hillary davam a eleição como ganha e achavam que a disputa seria um passeio tranquilo; não havia como perder para o histriônico candidato republicano. Mas o impensável aconteceu, Trump ganhou a eleição – nesta segunda-feira, os membros do Colégio Eleitoral começaram a votar, e o resultado será ratificado pelo Congresso em 6 de janeiro – e tiveram início as especulações sobre como o novo presidente agiria e como ficariam as relações dos Estados Unidos com o resto do mundo.

Trump venceu. E, após a eleição, o Brasil perdeu tempo

Nesse contexto, entra o Brasil. Desde o início da campanha, amplos setores da imprensa brasileira passaram a descrever Trump como um perigo global; começou a correr a tese de que o protecionismo anunciado pelo eleito poderia ser prejudicial ao Brasil em termos de comércio externo, sobretudo por eventual queda nas exportações brasileiras para os EUA. Pelo lado do governo brasileiro, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, havia dado declaração – completamente desnecessária – afirmando que a eleição de Trump seria um desastre.

Mas Trump venceu. E, após a eleição, o Brasil perdeu tempo. A reação adequada seria a imediata aproximação e o pedido de um encontro com o presidente eleito e sua equipe para dizer que as relações entre Brasil e EUA são maiores que os governantes de plantão e, portanto, deveriam discutir um protocolo de cooperação econômica e política no interesse dos dois países.

Eventuais medidas protecionistas adotadas pelo novo governo dos EUA podem ter efeito negativo limitado sobre o comércio exterior brasileiro. Caso os Estados Unidos imponham medidas de redução das importações da China e de outros países, esses mercados podem se voltar para o Brasil e ampliar suas compras de produtos brasileiros. E o Brasil nada tem a ganhar se mantiver postura reticente em relação ao novo governo norte-americano. Pelo contrário: o governo brasileiro deve ser pragmático e buscar aproximação com a equipe de Trump para discutir as bases de um plano de cooperação econômica, relações políticas e transferência de conhecimento tecnológico.

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