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Editorial

Ata do Copom envia mensagem firme

Juros inflação
Sede do Banco Central, em Brasília: dificuldades para reduzir juros são cada vez maiores. (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)

A divulgação da ata da última reunião do Copom, em que os nove membros do colegiado decidiram, de forma unânime, manter a taxa Selic nos atuais 10,5% ao ano pela segunda vez seguida, oferece mais detalhes sobre os elementos que os diretores do Banco Central levaram em conta para tomar sua decisão. Ainda que ela não leve em consideração o pânico global que tomou conta dos mercados no início desta semana – a ata foi divulgada apenas nesta terça-feira, mas a reunião ocorrera na semana passada –, a verdade é que o choque não chega a introduzir elementos novos à discussão, mas potencializa alguns aspectos que o Copom levou em consideração.

O câmbio é um deles, e foi mencionado em quatro dos 17 parágrafos da seção sobre “cenários e análise de riscos”. O Copom diz não haver “relação mecânica (...) entre a taxa de câmbio e a determinação doméstica da taxa de juros”, mas também afirma que as depreciações das moedas de países emergentes criam cenários desafiadores e que “movimentos cambiais mais abruptos” pedem “maior cautela na condução da política monetária doméstica”. Por fim, menciona “uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada” como fator de risco para a elevação da inflação. E desvalorizações abruptas do real têm se tornado frequentes; a última delas, que deixou o dólar próximo dos R$ 5,90, teve causas externas, mas outras são produto genuinamente nacional, especialmente quando o presidente Lula abre a boca para deixar claro que sua política fiscal continuará na direção diametralmente oposta da política monetária. Não à toa o real tem um dos piores desempenhos de 2024 em um pacote com moedas de economias desenvolvidas e emergentes.

A insistência governamental em esticar ao máximo a gastança, enquanto faz apenas alguns cortes insuficientes para cumprir as metas do arcabouço, eleva as expectativas de inflação futura

Este, no entanto, está longe de ser o único, ou mesmo o principal fator que pede maior vigilância da autoridade monetária. Ao listar os elementos que podem puxar a inflação para o alto, o Copom menciona uma “desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado” e “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário”. A esse respeito, os diretores do BC afirmam que “a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas”. A linguagem do BC é diplomática, mas para bom entendedor meia palavra basta: a insistência governamental em esticar ao máximo a gastança, enquanto faz apenas alguns cortes insuficientes para cumprir as metas do arcabouço, eleva as expectativas de inflação futura.

E o recado do Banco Central é claro, por mais que Lula e outros petistas críticos do BC, como Gleisi Hoffmann, esperneiem à vontade: se a política fiscal não começar a colaborar para a redução das expectativas de inflação, a política monetária precisará se manter no terreno contracionista por muito tempo – uma avaliação compartilhada por todos os diretores do BC, inclusive os quatro escolhidos por Lula. Nem mesmo uma elevação da Selic fica descartada em um cenário como este, embora o consenso atual do mercado financeiro aponte mais para a direção de uma manutenção dos juros em 10,5% até o fim do ano.

A postura do Copom – não apenas pela decisão tomada, mas também pela unidade de discurso entre seus membros – reforçou a credibilidade do Banco Central e demonstrou que ainda existe, no Brasil, uma instituição firmemente empenhada em conter a inflação, um dos grandes males econômicos, cruel especialmente com os mais pobres ao destruir seu poder de compra. Essa credibilidade, no entanto, fica na corda bamba à medida que se aproxima o momento em que Lula escolherá o sucessor de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central e terá, então, indicado a maioria dos membros do comitê. A diferença entre um BC subserviente e um BC de fato autônomo será crucial para o futuro do esforço de preservação do valor da moeda.

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