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Os membros do Comitê de Política Monetária do Banco Central, na reunião de janeiro de 2024.
Os membros do Comitê de Política Monetária do Banco Central, na reunião de janeiro de 2024.| Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central do Brasil

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu realizar mais um corte de meio ponto porcentual na taxa Selic, reduzindo-a para 11,25% ao ano. E, tanto no comunicado divulgado logo após a reunião quanto na ata publicada nesta terça-feira, os integrantes do colegiado já anteciparam que ao menos em março e maio haverá reduções na mesma intensidade, abrindo espaço para que o primeiro semestre termine com a Selic em um dígito, já que ainda haverá outra reunião em meados de junho.

Contra a gritaria de quem gostaria de ver os juros caindo vertiginosamente e na marra, a ata elege a constância prudente e a contínua observação de uma série de fatores para que o BC encerre o ciclo de afrouxamento com a Selic mais baixa possível sem comprometer a inflação, como afirmou o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, em evento realizado também na terça-feira. Neste sentido, é importante ressaltar que a reunião do fim de janeiro foi a primeira com quatro diretores do BC indicados por Lula, e todos eles votaram tanto pela redução de 0,5 ponto como pela projeção de novos cortes idênticos no futuro, demonstrando que, ao menos neste momento, a sensatez dos indicados está prevalecendo sobre a histeria de quem os indicou.

Uma política fiscal mais expansionista, com gasto público fora de controle em ano eleitoral, é hoje o maior obstáculo no trabalho do Copom e do Banco Central de preservar o valor da moeda

Não houve grandes mudanças nos cenários de risco descritos pelos membros do Copom em relação a meados de dezembro, quando havia ocorrido a reunião anterior. As economias desenvolvidas, como a norte-americana e a britânica, ainda não iniciaram seus processos de afrouxamento monetário – os Estados Unidos, por exemplo, optaram por manter sua taxa de juros, a maior dos últimos anos, ao mesmo tempo em que o Copom reduzia a Selic. Por mais que os membros do Copom afirmem não haver “relação mecânica” entre as taxas brasileira e de outros países, é fato que, quanto menor a diferença entre a Selic e os juros norte-americanos, britânicos ou da zona do euro, mais o dinheiro tende a migrar para as economias mais sólidas, deixando as emergentes e desvalorizando suas moedas, inclusive o real, o que tem efeito inflacionário.

Internamente, os diretores do BC afirmam que a desaceleração da economia perdeu um pouco de ritmo “em função do aumento da renda das famílias, como reflexo da elevação do salário mínimo, de benefícios sociais e do mercado de trabalho mais resiliente”. Além disso, “o Comitê já incorpora nas suas projeções uma elevação de preços em função do fenômeno do El Niño e monitora os impactos da reversão do fenômeno”, ou seja, as projeções já incluem a oscilação no preço dos alimentos.

Mais importante: a ata diz que “as expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação”. A solução está em “uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”, mas é exatamente aqui que está o perigo. Enquanto o Copom “reafirma a importância da firme persecução” das “metas fiscais já estabelecidas”, o petismo, capitaneado pelo presidente Lula, ainda não desistiu de mudar a meta de zerar o déficit primário em 2024. O efeito de uma alteração sobre a “credibilidade e reputação” do Brasil seria certamente negativo.

Seguir no caminho já traçado, portanto, é a intenção anunciada pelo Copom e que só mudará caso a realidade se desvie muito dos cenários projetados. Uma turbulência externa ou um fenômeno climático extremo e imprevisto jamais podem ser descartados, mas no momento os maiores riscos estão nas canetas palacianas: uma política fiscal mais expansionista, com gasto público fora de controle em ano eleitoral, é hoje o maior obstáculo no trabalho do Copom e do Banco Central de preservar o valor da moeda.

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