Do presidente Michel Temer não se pode dizer que tenha sido, em algum momento, um estouro de popularidade, ainda que, com o impeachment de Dilma Rousseff, ele tenha se tornado a esperança de que o Brasil deixasse para trás o desastre econômico do lulopetismo. A mais recente pesquisa de avaliação do desempenho presidencial, divulgada na semana passada, mostrou queda na avaliação de Temer: o instituto MDA apurou que 10,3% dos brasileiros consideram o governo ótimo ou bom (contra 14,6% em outubro de 2016), enquanto 44,1% o avaliam como ruim ou péssimo (em outubro, eram 36,7%). O desempenho pessoal do presidente é aprovado por 24,4% dos entrevistados (contra 31,7% há quatro meses), mas reprovado por 62,4% (em outubro, eram 51,4%).
Há três explicações principais para tamanha rejeição. A primeira está no grupo leal ao PT; ainda que o apoio ao petismo tenha caído recentemente, como demonstram as eleições municipais de outubro, esse grupo ainda é significativo. E quem classifica Temer como “golpista” dificilmente o aprovaria, ainda que o presidente operasse milagres. O próprio Temer também não colabora quando demonstra hesitação – por exemplo, ao extinguir e recriar o Ministério da Cultura, ainda durante a interinidade – e, principalmente, quando é visto como tolerante em relação aos membros de seu grupo político envolvidos em escândalos, como nos casos de Geddel Vieira Lima e Moreira Franco, este último recentemente feito ministro em um ato cuja legalidade foi atestada pelo STF, mas cuja moralidade é questionável.
O presidente fará melhor caso se concentre nas reformas estruturais, em vez de pensar em “presentinhos”
Mas a principal razão para a rejeição parece ser inercial. Como a economia está demorando a dar sinais de recuperação consistente, depois de nove meses de Temer no Planalto (contando a interinidade), fica a impressão de que o governo não está fazendo nada. Essa avaliação parte de um erro de percepção. Há, sim, evolução nos indicadores – basta ver a inflação, que voltou para dentro da meta em 2016 depois de atingir os dois dígitos em 2015 e já permitiu quatro cortes consecutivos nos juros, o mais recente deles na reunião do Copom encerrada nesta quarta-feira. É claro que quem sofre com o desemprego tem pressa, mas o estrago da “nova matriz econômica” foi tão profundo que seria ingênuo esperar uma retomada forte e imediata. Além disso, algumas das reformas essenciais para melhorar a economia até foram apresentadas pelo governo, mas ainda precisam de aprovação no Congresso.
De qualquer modo, a rejeição incomoda a equipe de Temer, e para reverter o quadro começam a surgir ideias de “pacotes de bondades”, como uma alteração drástica no Imposto de Renda que isentaria quem recebe até R$ 8 mil mensais (atualmente, o limite de isenção é de R$ 1,9 mil) – ideia da Casa Civil, não da Fazenda, evidentemente, embora o ministro Eliseu Padilha negue ter proposto essa faixa específica de isenção. O raciocínio seria semelhante ao da liberação das contas inativas do FGTS: colocar mais dinheiro nas mãos das famílias para que consumam, reaquecendo a economia.
Pagar menos imposto, quem não quer? Mas um governo quebrado, que prevê R$ 150 bilhões de déficit primário em 2017, pode realmente se dar ao luxo de isentar de IR quem ganha até R$ 8 mil por mês? A equipe econômica certamente pediria uma compensação pelo que deixasse de arrecadar com essa medida, e a conta poderia acabar ou no colo do setor produtivo (prejudicando o combate ao desemprego), ou por meio de aumento de impostos sobre produção e consumo, que todos pagam igualmente e, proporcionalmente, sempre punem os mais pobres.
Esse tipo de renúncia fiscal foi parte integrante da “nova matriz econômica”, ou seja, receita para o fracasso. Só isso já deveria alertar o grupo próximo a Temer. O presidente fará melhor caso se concentre nas reformas estruturais – inclusive uma muitíssimo necessária reforma tributária, que pode até incluir mudanças no Imposto de Renda, desde que embasadas em bons estudos –, em vez de pensar em “presentinhos” para aumentos momentâneos de popularidade.