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Sede do Banco Central, em Brasília.
Sede do Banco Central, em Brasília.| Foto: Enildo Amaral/BC

Nos Estados Unidos, a maior elevação de juros desde 1994; no Brasil, a Selic mais alta desde o fim de 2016. Nesta quarta-feira, tanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro quanto sua contraparte norte-americana, o Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), decidiram pela elevação dos juros em seus respectivos países: 0,75 ponto porcentual nos EUA (para um intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano) e meio ponto porcentual no Brasil (para 13,25%). E o aperto continuará nos dois países, deixando muitas dúvidas sobre quando o ciclo de alta da Selic iniciado em março de 2021 terminará no Brasil.

A maioria das instituições financeiras já previa que o Copom não terminaria o ciclo de alta nesta reunião, voltando a subir a Selic na reunião de agosto, mas ainda havia bancos e corretoras estimando que o processo de aperto estaria concluído já em junho, seja por meio de um aumento maior agora, seja pela manutenção dos juros em 13,25% por um período mais longo. O comunicado divulgado ao fim da reunião, no entanto, dissipou qualquer dúvida: “é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista (...) Para a próxima reunião, o Comitê antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude”, o que levaria os juros para 13,75% ao ano ou, segundo as projeções da maior parte do mercado financeiro, 13,5%, com uma elevação de apenas 0,25 ponto em agosto.

Ainda que outros fatores de risco acabem se resolvendo de forma benéfica para o Brasil, a escalada de juros nos Estados Unidos torna ainda mais complicada a missão do Copom

Nem mesmo a desaceleração da inflação em maio, com o IPCA de 0,47% após ter registrado 1,06% em abril e 1,62% em março, aliviou as preocupações dos membros do Copom. O cenário internacional se deteriorou ainda mais – autoridades e economistas norte-americanos creem ser cada vez mais provável que os Estados Unidos enfrentem uma recessão, colocando a maior economia do mundo no rumo da estagflação. Embora não tenham sido explicitamente mencionados no comunicado do Copom, os lockdowns chineses e a invasão da Ucrânia continuam trazendo caos às cadeias produtivas e ao comércio mundial de commodities.

Internamente, o Copom preferiu não dar como certa a aprovação de projetos de lei e PECs que afetam a tributação sobre itens como combustíveis e energia elétrica; de qualquer maneira, o comitê acredita que “as medidas tributárias em tramitação reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária” – ou seja, oferecerão uma redução no curto prazo, mas terão o efeito contrário nos anos seguintes. A esperança de que ainda se aprove qualquer reforma macroeconômica ou medida de ajuste fiscal neste mandato já se foi há algumas reuniões: o último comunicado a afirmar que “perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia” foi o da reunião de setembro de 2021, quando a Selic subiu para 6,25%; agora, menciona-se apenas “a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país”. Em outras palavras, o Copom não conta mais com as reformas, esperando apenas que governo e Congresso não piorem o cenário fiscal.

Ainda que outros fatores de risco acabem se resolvendo de forma benéfica para o Brasil, a escalada de juros nos Estados Unidos torna ainda mais complicada a missão do Copom, pois cada elevação decidida em Washington provoca uma “fuga para a segurança” de investidores, tirando dólares das economias emergentes e desvalorizando suas moedas. No caso brasileiro, dólar em alta significa produtos importados mais caros, inclusive o petróleo, forçando novamente a inflação para cima, prolongando o ciclo de aperto nos juros e sacrificando ainda mais as perspectivas de crescimento neste e nos próximos anos.

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