O descaso dos vereadores de Curitiba com a opinião pública foi mais uma vez demonstrado nesta semana com a aprovação de reajuste de 28% dos próprios salários, que passam dos atuais R$ 10,4 mil para R$ 13,5 mil, em 2013, valendo, portanto, só para a próxima legislatura. Como se não bastasse o reajuste bem acima da inflação, eles aproveitaram o embalo para aprovar o 13.º salário a si próprios.
Em um ano em que a Câmara se viu envolvida em denúncias que atingiram o presidente afastado da Casa, João Cláudio Derosso (PSDB), e em que a maioria dos vereadores decidiu se manter silente diante da crise que se instalou no Legislativo, é completamente fora da realidade a aprovação de tais benefícios. Nem mesmo o fato de se estar em véspera de ano eleitoral abalou a disposição da maioria dos vereadores em garantir o aumento.
É verdade que a aprovação não foi unânime e pode até ser considerada um tanto quanto apertada, já que foram 17 votos contra 13 em ambas as votações. De qualquer forma o subsídio de R$ 13,5 mil passa a equivaler ao salário de um secretário municipal. Está muito claro que nem mesmo a insatisfação de 66% da população com seus representantes do Legislativo tem peso suficiente para mexer com a consciência dos edis curitibanos.
O aumento do subsídio em questão seria aceitável, embora discutível, se eles estivessem demonstrando que cumpriram diligentemente com os seus mandatos. Especialmente quando ocorreram as denúncias de gastos irregulares com publicidade da Câmara na casa dos milhões de reais. A leniência nas investigações e a recusa em assumir posições de clara defesa do patrimônio público no caso das irregularidades levantadas contrastam com o açodamento em defenderem o aumento dos próprios ganhos.
Note-se que o aumento vale para a próxima legislatura, ou seja, somente os vereadores eleitos em 2012 irão receber o novo valor do subsídio. Esse fato é inclusive levantado por alguns deles para justificar que, ao votar de forma favorável ao aumento, não legislaram em causa própria. Mas tal argumento cai por terra ao se olhar para a formação da Câmara de Vereadores. É fácil perceber que mais da metade está ali exercendo no mínimo o segundo ou o terceiro mandato. Certamente esses mesmos vereadores esperam se reeleger no próximo pleito. Portanto é difícil negar que as benesses não foram aprovadas pensando no próprio futuro.
Tal decisão deixa nítido que o poder dado aos parlamentares brasileiros de fixar o próprio salário se mostra equivocado. Que trabalhador não gostaria de dizer o quanto quer ganhar? Como nem mesmo a opinião pública tem servido de baliza para a atuação parlamentar, em algum momento será preciso pensar mecanismos de controle dos gastos com salários de nossos representantes nos legislativos.
Entretanto, enquanto não existirem esses mecanismos, a maneira mais eficaz que a sociedade tem para reagir contra tal tipo de comportamento é o exercício consciente do voto. Escolher bem os representantes é fundamental para que ocorram mudanças na política brasileira, há décadas dominada por práticas espúrias que contemplam o corporativismo e os interesses individuais em detrimento dos coletivos. Nesse sentido, por que não começar votando e escolhendo bem os vereadores na eleição do próximo ano?