O presidente Lula em entrevista ao portal UOL, nesta quarta-feira (26).| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
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O investidor estrangeiro está cada vez mais desconfiado em relação ao Brasil. Um levantamento da Guide Investimentos, publicado pelo site Poder360 na última segunda-feira, mostra que o risco-país brasileiro teve a segunda maior alta em 2024, entre todas as economias do G20. O Credit Default Swap (CDS) de 5 anos, uma espécie de seguro contra calotes, subiu de 133 para 166 pontos-base, uma alta que perde apenas para a da Argentina, que sofre as dores do necessário choque liberal de Javier Milei e cujo CDS passou de 1.456 para 2.589 pontos-base.

Hoje, entre as economias do G20, o Brasil tem o quarto maior risco-país, perdendo para a Argentina, a Turquia – com 276 pontos-base em 21 de junho, menos que no início do ano – e a África do Sul (210 pontos-base, apenas 6 a mais que em janeiro). A título de comparação, o risco-país dos Estados Unidos é de 36 pontos-base; o do Japão, 22; e o da Alemanha, o mais baixo do G20, é de apenas 10 pontos-base.

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Em termos proporcionais, o Brasil também faz feio. O aumento de 25% no seu CDS é menor apenas que os de Argentina (alta de 78%), França (elevação de 50%, de 24 para 36 pontos-base) e Coreia do Sul (alta de 33%, 27 para 36 pontos-base). No caso francês, a disparada se concentra toda nos últimos 30 dias, marcados pela derrota do grupo do presidente Emmanuel Macron nas eleições para o Parlamento Europeu e o anúncio de novas eleições para a Assembleia Nacional do país, que ocorrerão neste fim de semana.

A desconfiança refletida no aumento do risco-país não tem nada de gratuita. É mera reação às palavras e ações de Lula

No caso brasileiro, o histórico do CDS mostra que o risco-país teve queda em 2023, ano em que o mercado financeiro ainda demonstrou alguma boa vontade para com Lula, já que o governo conseguira aprovar um arcabouço fiscal que, embora objetivamente ruim, ainda era melhor que as políticas defendidas por alas mais vocais do PT. No entanto, o movimento de alta recomeçou em meados de março deste ano, quando o risco-país estava em 120 pontos-base, marca que havia sido atingida pela última vez ainda antes da pandemia de Covid-19.

O que temos visto, nesses últimos meses, é a deterioração de vários indicadores de saúde fiscal do país – o déficit nominal do setor público consolidado, no acumulado de 12 meses até abril, bateu o recorde registrado na pandemia – e a boquirrotice cada vez maior do presidente Lula. O petista não perde uma oportunidade de atacar o Banco Central, a única instituição que está realmente trabalhando para conter a inflação no Brasil, com críticas cada vez mais ácidas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Além disso, Lula continua insistindo que não é necessário realizar nenhum ajuste fiscal ou corte de gastos. Nesta quarta-feira, em entrevista ao portal UOL, o presidente da República afirmou que “o problema não é que tem que cortar. O problema é se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação”, mantendo sua aposta na política de arrancar cada vez mais dinheiro de contribuintes e empresas para manter as contas minimamente ajustadas. E, quando não está torcendo o nariz publicamente para a ideia de reduzir as despesas, Lula está sofismando, criando confusão entre “gasto” e “investimento”, como se ambos não representassem dinheiro saindo dos cofres públicos, e como se Lula não estivesse chamando de “investimento” certas despesas que nenhum manual decente de contas públicas classifica desta forma.

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Até mesmo Dilma Rousseff já demonstrou que sabia ligar os pontos quando, em um debate na campanha presidencial de 2014, acusou os adversários de “plantar inflação para colher juros” – a frase deixava implícito que juros altos eram consequência de inflação alta no presente ou perspectivas de inflação alta no futuro. O que Dilma, em seu terraplanismo econômico, ignorava ou queria ignorar é que a inflação alta era consequência, entre outros fatores, de gasto público ilimitado, aquele mesmo que era “vida”, para recordar outra frase célebre da ex-presidente. Lula vai pelo mesmo caminho, com a desvantagem de nem mesmo ser capaz de entender a relação de causa e consequência entre inflação e juros.

A desconfiança refletida no aumento do risco-país, portanto, não tem nada de gratuita. É mera reação às palavras e ações de Lula, que não apenas rejeita qualquer plano de corte de gastos como ainda sabota dia sim, dia também, os responsáveis por uma política monetária que só é contracionista porque precisa se contrapor a uma política fiscal abertamente expansionista. O risco-Brasil, hoje, pode muito bem ser chamado de risco-Lula.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]