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Editorial

Avaliações e perspectivas

Um exercício de imaginação interessante nessa altura do ano é tentar adivinhar o que se passa pela cabeça da presidente Dilma Rousseff, agora que está prestes a terminar os seus primeiros 365 dias de governo. Seguindo por esse viés supõe-se que desde o início do mandato ela estivesse perfeitamente consciente dos enormes desafios que teria pela frente na condução do país. A começar pela necessidade de mostrar-se capaz de administrar sem a tutela de seu padrinho político e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Impor a sua marca sempre foi uma necessidade, de forma a calar aqueles mais céticos que duvidavam de sua condição de gerenciar os destinos do Brasil.

Os pontos abordados acima permitem construir esse cenário previsível do que pensou e esperava a presidente a partir da subida da rampa do Palácio do Planalto. Por outro lado é possível cravar, com tranquilidade, que Dilma jamais cogitou que passaria pelo dissabor de colecionar tantas agruras no campo político em tão pouco tempo de mandato. Com efeito, a saída de sete ministros – seis deles sob fortes suspeitas de envolvimento em falcatruas e um por insubordinação – extrapolou em muito os limites dos acidentes de percurso previsíveis para um chefe de governo em início de gestão enfrentar. Recordando, foram defenestrados por má conduta Antonio Palocci (Casa Civil); Alfredo Nascimento (Transportes); Wagner Rossi (Agricultura); Pedro Novais (Turismo); Orlando Silva (Esporte) e Carlos Lupi (Trabalho). Já Nelson Jobim (Defesa), o único a não sucumbir no vendaval que varreu Brasília, foi apeado do cargo após disparar uma série de críticas ao próprio governo.

A demissão em massa de ministros foi de longe o fato político que marcou o primeiro ano da presidente Dilma Rousseff, fazendo dela uma recordista na substituição de integrantes do seu staff próximo. Marca negativa que, além do desgaste inevitável para a imagem do governo, acabou freando o ritmo normal da administração federal. Além do constrangimento de ver assessores envolvidos em malfeitorias, Dilma ainda precisou enfrentar o corporativismo partidário para conseguir afastá-los, não sem antes precisar negociar a substituição com os caciques políticos contrariados com o afastamento dos apadrinhados e a consequente perda de privilégios e poder. E pelo andar da carruagem a leva de ministros afastados pode não ficar nos atuais sete. A bola da vez a incomodar o Planalto é o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, enredado em suspeitas de tráfico de influência. Segundo revelações da imprensa, Pimentel embolsou a bolada de R$ 2 milhões por "serviços de consultoria" prestados a entidades empresariais de Minas Gerais, logo após deixar a prefeitura de Belo Horizonte.

Deixando de lado a liberdade imaginativa em torno dos pensamentos de Dilma sobre o seu primeiro ano de governo, objetivamente, 2012 vai impor à presidente uma nova realidade. Escaldada pela avalanche de denúncias e suspeitas de corrupção, a reforma ministerial que vinha sendo costurada há alguns meses será fundamental para tirar sua administração da inércia que marcou o primeiro ano. Prevista para ser deflagrada até o fim de janeiro, a reforma será a oportunidade para Dilma se livrar de alguns pesos herdados do governo anterior, substituindo-os por auxiliares de sua estrita confiança. Nomes, de preferência, sem vinculação direta com o ex-presidente Lula e outros caciques políticos que se consideram donatários de ministérios e, como tal, com a prerrogativa de impor nomes.

A partir das mudanças na equipe e superada a imobilidade provocada em boa parte pelas denúncias de corrupção, o que se espera é que Dilma efetivamente comece o seu governo. Nesse sentido, certamente será cobrado o cumprimento de alguns programas considerados como prioritários em sua gestão e que ainda não atingiram a celeridade esperada. É o caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Programa Brasil Sem Miséria, que aliado ao Bolsa Família pretende tirar da miséria absoluta cerca de 8,5% da população – 16 milhões de brasileiros – com renda mensal de até R$ 70 individualmente. Compromissos importantes a serem perseguidos em meio a um cenário econômico com horizonte turvo. Muito diferente do panorama desfrutado pelo seu antecessor que permitiu ao Brasil avançar no campo social e passar ao largo de alguns abalos que sacudiram as finanças mundiais.

Diante das incertezas do futuro, o desafio de garantir o crescimento do país deve vir acompanhado de ações firmes do governo no tocante ao combate à inflação e ao déficit público. Nesse sentido, ajudaria muito o encaminhamento das esperadas e sempre postergadas reformas, em particular a tributária, a previdenciária e a política. Até que ponto Dilma terá cacife e disposição política para encarar a empreitada é uma questão que apenas o tempo dirá. Os interesses conflitantes em jogo e as inevitáveis pressões que tendem a recair sobre o governo são empecilhos à viabilização das mudanças estruturais essenciais à pavimentação dos caminhos ao desenvolvimento continuado do país.

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