No dia 12 de fevereiro, o Movimento dos Sem-Terra invadiu não uma fazenda, mas a própria capital federal; 15 mil pessoas participaram da marcha do MST, que se dirigiu à Praça dos Três Poderes, passando antes pela Embaixada dos Estados Unidos. Já na praça, os sem-terra foram primeiro ao Supremo Tribunal Federal, onde derrubaram cercas e furaram bloqueios de segurança. O tumulto foi tal que o ministro Ricardo Lewandowski, que presidia a sessão naquele dia, suspendeu temporariamente os trabalhos. Depois, eles se dirigiram ao Palácio do Planalto, embora Dilma Rousseff não estivesse no local. Num confronto desigual contra algumas centenas de policiais, os manifestantes usaram paus, pedras portuguesas arrancadas do piso da praça e até martelos, ferindo 30 policiais, oito deles gravemente.
O conflito entre sem-terra e policiais foi o ponto culminante do 6.º Congresso Nacional do MST, evento realizado entre os dias 10 e 14 de fevereiro e que contou com uma generosíssima ajuda de órgãos estatais (ou seja, contribuição do bolso do contribuinte brasileiro): R$ 200 mil da Caixa Econômica Federal, R$ 350 mil do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 650 mil da Petrobras, em todos os casos sem licitação. Apenas a profunda afinidade ideológica entre o MST e o Partido dos Trabalhadores pode explicar, por exemplo, que uma empresa estatal com sérias dificuldades financeiras, como a Petrobras, encontre no seu caixa mais de meio milhão de reais para patrocinar um evento dos sem-terra.
Mais surpreendente que o patrocínio estatal a um evento que inclui, em seu programa, tentativas de invasão de prédios do governo e confronto com policiais, com direito a depredação e ferramentas arremessadas contra as forças de segurança, foi a reação governamental à baderna. O paranaense Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, fiel a seu estilo condescendente com qualquer forma de vandalismo, desde que promovido por seus parceiros ideológicos (ou contra seus adversários, tanto faz), foi ao encontro dos sem-terra e prometeu-lhes um encontro com Dilma Rousseff, que ocorreu no dia seguinte ao confronto. Em resumo, a mensagem que Carvalho enviou naquele momento não apenas aos sem-terra, mas a todo o país é a de que a baderna compensa. Lembremo-nos de que o mesmo ministro, em 2013, manifestou a intenção de "abrir diálogo" com os black blocs, aqueles que agora já carregam na ficha corrida o cadáver do cinegrafista Santiago Andrade.
Aliás, para Carvalho a baderna compensa tanto que o ministro, dias atrás, não apenas elogiou o MST como também defendeu o patrocínio estatal aos sem-terra e afirmou que continuará destinando recursos públicos ao movimento. Carvalho comparou a ajuda ao financiamento dado a feiras agropecuárias Brasil afora. Só se esqueceu de citar algum caso em que os agricultores e expositores dessas feiras tenham promovido um espetáculo remotamente semelhante ao que os sem-terra protagonizaram em Brasília. Para não ter de enfrentar a contradição, limitou-se a classificar de "ideológica e política" a divulgação das informações sobre o dinheiro repassado pela Caixa, pelo BNDES e pela Petrobras ao MST, na esperança de que o rótulo pegue.
O MST, que evita adquirir personalidade jurídica para não ter de responder pelas ações que comete, tem um longo histórico de desrespeito à propriedade privada e ao poder constituído. Um grupo com essas credenciais jamais poderia ser considerado um interlocutor legítimo em uma sociedade que preza pelos valores democráticos; no entanto, o governo faz do movimento mais que isso, transformando-o em interlocutor privilegiado, quase inimputável, merecedor de patrocínios milionários e que tem desculpadas as suas atitudes mais violentas. Não surpreende que o MST, que chegava à maioridade no momento em que Lula assumia a Presidência, continue se comportando, mesmo aos 30 anos, como uma criança mimada e imatura.
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