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Editorial

Balança desequilibrada

Embarque de soja no Porto de Paranaguá (PR). (Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná)

Um indicador positivo da economia brasileira em 2023 foi divulgado na última sexta-feira, dia 5, pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). A balança comercial – o saldo entre exportações e importações – bateu recorde, com superávit de US$ 98,839 bilhões, muito acima dos US$ 61,5 bilhões de 2022. No entanto, assim como o PIB do terceiro trimestre de 2023, que veio acima das expectativas, o desmembramento dos números da balança comercial aponta para alguns motivos de preocupação.

Se no caso do PIB era preciso ver com alerta a queda na Formação Bruta de Capital Fixo, que reflete o ritmo dos investimentos, no caso da balança comercial os dois números que merecem uma reflexão mais atenta são exatamente as principais causas do superávit recorde. O primeiro é o desempenho excepcional do agronegócio, que puxou o PIB do primeiro trimestre do ano passado e responde por um quarto das exportações brasileiras. As supersafras permitiram ao Brasil elevar as suas exportações tanto em volume quanto em valor, bem acima da média mundial no mesmo período. A preocupação vem do fato de que essas supersafras provavelmente não se repetirão neste ano, principalmente devido a eventos climáticos que castigaram as lavouras. No estado do Mato Grosso, algumas regiões já registram quebras inéditas de 20% na safra de soja. As lavouras de feijão e arroz também foram bastante prejudicadas.

Não haverá como aumentar significativamente o comércio exterior brasileiro sem priorizar as parcerias com os gigantes econômicos mundiais, em um autêntico espírito de abertura comercial

O segundo número notável é a redução drástica nas importações, que caíram 11,7% em valor na comparação com 2022 – foi essa diferença que ajudou a impulsionar o saldo recorde de 2023, já que as exportações subiram apenas 1,7% no ano passado. Parte dessa redução se explica por uma redução no preço dos itens importados pelo Brasil – segundo a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, adubos e fertilizantes ficaram 45% mais baratos que em 2022, ano em que a invasão da Ucrânia pela Rússia desestabilizou os preços desses itens. No entanto, tradicionalmente o ritmo de importações também é um indicador de investimentos, principalmente na indústria de transformação.

Ao comentar os dados da balança comercial, a secretária de Comércio Exterior manteve a confiança em bons números do agronegócio e estimou que as importações devem voltar a subir em valor, com alta na casa dos 5%, e levando a um superávit expressivo em 2024, mas sem repetir o recorde de 2023. Além disso, será preciso acompanhar as trajetórias dos principais parceiros comerciais do Brasil. A Argentina do libertário Javier Milei irá rever as práticas protecionistas que marcaram os governos de esquerda? A economia chinesa, para a qual o Brasil exportou mais de US$ 100 bilhões em 2023, irá se recuperar ou terá desaceleração?

A verdade é que, apesar de numericamente expressivos, todas essas centenas de bilhões de dólares em importações e exportações representam muito pouco no cenário global: a participação do Brasil corresponde tradicionalmente a apenas 1% do fluxo comercial mundial. O presidente da Apex, Jorge Viana, disse em novembro de 2023 ao canal CNN que a meta brasileira é sair dos atuais US$ 580 bilhões para US$ 1 trilhão em trocas comerciais. No entanto, o ex-senador e ex-governador petista – que só está no cargo porque os estatutos da Apex foram alterados para permitir um presidente que não seja fluente em inglês –, fiel à política exterior petista, falou basicamente na busca de mercados do chamado “sul global”, mencionando apenas de passagem o acordo entre Mercosul e União Europeia. No entanto, não haverá como aumentar significativamente o comércio exterior brasileiro sem priorizar as parcerias com os gigantes econômicos mundiais, em um autêntico espírito de abertura comercial.

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