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Desastres naturais acontecem. Nenhum país ou região está livre deles. É o caso do Japão, que há menos de um mês foi vítima de vários terremotos sucessivos e um grande tsunami, que ceifaram milhares de vidas, desorganizaram toda a atividade social e produtiva, devastaram cidades inteiras, comprometeram usinas nucleares, interromperam comunicações, destruíram rodovias, ferrovias, pontes, viadutos. Prejuízos calculados em US$ 300 bilhões – enorme para um país que, embora seja a terceira economia mais forte do mundo, vive há anos sua mais severa crise econômica.

No afã de dar-nos a medida da violência que abalou o Japão, dizem os especialistas que os estragos foram equivalentes aos que causariam 9 mil bombas atômicas da potência daquelas jogadas sobre Hiroshima e Nagasaki e que decretaram o fim da Segunda Guerra, em 1945, com a humilhante derrota japonesa. O Japão se reergueu da guerra e, contados alguns poucos anos, já se situava entre as nações mais desenvolvidas do planeta. Agora, seis décadas depois, os efeitos da nova tragédia estão sendo enfrentados com aquela mesma determinação.

Para se ter ideia do que é capaz de fazer esse reconhecido senso de responsabilidade, dedicação e eficiência que caracterizam o povo nipônico basta lembrar que um dos setores mais afetados pelos terremotos foram as rodovias. Autoestradas moderníssimas foram destruídas em vastas extensões; fissuras profundas no solo partiram algumas delas em vários pedaços, como pudemos testemunhar nas imagens divulgadas logo após o desastre.

Pois bem: em menos de uma semana, as rodovias estavam recuperadas e permitindo o tráfego em condições próximas da normalidade.

Tudo isso foi lembrado por um único motivo: o Paraná vem sendo vitimado por chuvas intensas desde o início do mês passado. Sabemos o quanto sofreram cidades como Morretes, Antonina e Paranaguá. E sabemos também dos estragos sofridos pela BR-277, a principal ligação do litoral com o interior do estado. Sabemos, igualmente, que situação semelhante se dá em relação à BR-376, no trecho entre Curitiba e o estado de Santa Catarina.

Quedas de barreiras interrompem o tráfego num ponto e já em seguida novos deslizamentos interditam outros trechos. O resultado é que, conforme viemos noticiando, uma viagem Curitiba-Florianópolis, que em condições normais pode ser vencida em quatro horas, tem obrigado os motoristas à espera de horas em filas e engarrafamentos.

Nem a BR-277 nem a BR-376 foram atingidas por terremotos ou tsunamis. Foram (e são), isto sim, vítimas de pelo menos três males que – ao contrário da imprevisibilidade dos fenômenos que atingiram o Japão – poderiam ser evitados. O primeiro deles é o tratamento irresponsável que dispensamos ao meio ambiente. O desmatamento das encostas é o fator mais determinante dos deslizamentos que levam o asfalto, derrubam pontes e viadutos.

Outro mal é a histórica incúria dos governos quanto à conservação, expansão e modernização das rodovias – um patrimônio de incalculável valor que deveria receber sempre os cuidados de quem sabe ser ele um dos motores do desenvolvimento. Sem vias de transporte em boas condições e logística complementar em funcionamento, a economia simplesmente não se movimenta com a velocidade que os tempos modernos exigem.

E o terceiro mal: a lentidão das ações, ditas "emergenciais", visando à recuperação e a normalização do tráfego. Lentidão, reconheça-se, que só não está sendo maior graças à participação da iniciativa privada, para a qual foi delegada a administração das rodovias federais.

Está certo: o Brasil e o Paraná não são assim um Japão – inclusive em relação ao tamanho das tragédias que nos abatem. Mas não custa lembrarmo-nos do exemplo nipônico para nos darmos conta de que poderíamos fazer melhor.

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