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Editorial

O bicentenário da Independência e o Brasil que desejamos

(Foto: Otavio Souza Junior/Pixabay)

O Brasil completa, nesta quarta-feira, os 200 anos de sua independência em meio a uma campanha eleitoral acirrada e polarizada e um clima institucional bem distante do ideal; ambos tendem a monopolizar as atenções, tirando um pouco do brilho da data cívica mais importante do país. No entanto, o bicentenário não pode passar ignorado como oportunidade para se refletir sobre tudo o que o país conquistou, os inúmeros desafios que ainda tem pela frente e a nossa capacidade de vencê-los se soubermos dar a todos os brasileiros as oportunidades para realizar todo o seu potencial.

A nação agrária e escravista que surgiu em 1822 deu lugar a um país que foi capaz de eliminar, ainda que tardiamente em comparação com seus vizinhos, a mazela da escravidão e se desenvolveu a ponto de hoje figurar entre as maiores economias do mundo. Com uma história repleta de rupturas institucionais, do “golpe da maioridade” de 1840 ao golpe militar de 1964, passando pela própria proclamação da República e pela dita “Revolução” de 1930 (que, no fundo, era um golpe varguista), o Brasil vive hoje um período que se aproxima de quatro décadas de normalidade democrática, com alternância de poder entre grupos bastante díspares política e ideologicamente. A hiperinflação, um mal que desorganizou completamente a economia nacional por muitos anos, foi finalmente vencida em 1994. Quando o Brasil celebrou o sesquicentenário da Independência, em 1972, mais de um terço de sua população era analfabeta, mas hoje os índices giram em torno dos 6%.

Uma nação que foi capaz de tantas conquistas no passado distante e recente é totalmente capaz de seguir evoluindo desde que todos estejam empenhados na construção deste Brasil melhor que desejamos

Estes poucos exemplos dão mostra de que o país tem a capacidade de superar problemas graves, uma qualidade que continua extremamente necessária, pois o Brasil ainda luta para deixar para trás o rótulo de “subdesenvolvido”, hoje substituído por “emergente” – uma nova roupagem para designar aquele que já foi chamado de “país do futuro”, expressão do austríaco Stefan Zweig, que escolheu nosso país para fugir do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Há muito o que fazer, material e moralmente, para que o Brasil se torne uma nação desenvolvida, a começar pela erradicação da miséria e da fome, dois males que insistem em fazer parte da realidade nacional. São milhões os brasileiros aos quais faltam as condições mais básicas para que possam buscar por conta própria os meios para progredirem como cidadãos; a sociedade e o Estado têm a obrigação moral de lutar contra a pobreza extrema, que também se manifesta em aspectos como as condições completamente indignas de moradia.

O combate à pobreza é apenas um dos desejos que a Gazeta do Povo faz para o país neste bicentenário. Por ocasião das eleições, apresentamos ao leitor uma série de áreas que consideramos prioritárias para que o Brasil finalmente se torne uma nação desenvolvida, que proporciona aos brasileiros todas as condições para que coloquem seus talentos a serviço do bem comum. Trata-se de metas que não se esgotam nos próximos quatro anos – muitas delas são trabalho de décadas, embora a experiência prática em muitos casos mostre que é possível conseguir bons resultados também no curto prazo.

Para construir o Brasil que desejamos ao iniciar este terceiro centenário, precisamos, em primeiro lugar, reconhecer que esta é tarefa de todos, não apenas do poder público – na verdade, ao poder público cabe o papel de ajuda aos verdadeiros protagonistas, que são os brasileiros, seja individualmente, seja empreendendo, seja como parte da sociedade civil organizada. Quanto mais confiança houver nas pessoas e no setor privado, mais chance teremos de vencer as mazelas socioeconômicas como os índices ainda precários na educação e na saúde, o desemprego, a pobreza e a violência urbana. Com cada vez mais brasileiros empenhados na construção do bem comum, poderemos revitalizar as instituições, fortalecer nossa democracia ainda jovem e que enfrenta inúmeros desafios para sua consolidação, e espalhar a tão necessária cultura democrática que rejeita soluções de força, a violação de direitos, e a transformação do adversário político em inimigo.

Nenhuma dessas metas é irreal. Uma nação que foi capaz de tantas conquistas no passado distante e recente é totalmente capaz de seguir evoluindo desde que todos estejam empenhados na construção deste Brasil melhor que desejamos, aproveitando a pluralidade de opiniões políticas como oportunidade de debate entre diferentes concepções sobre como atingir os objetivos, e não como empecilho para o progresso do país. Que o bicentenário da Independência seja ocasião de celebração, de reflexão e de incentivo para que todos os brasileiros se sintam coautores de um projeto de nação livre, justa e próspera.

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