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Editorial 1

Bolsa Família e o futuro

Na largada da campanha presidencial, no início desta semana, um tema ganhou projeção imediata, tanto da parte da candidata do governo, Dilma Rousseff, como do principal concorrente da oposição, José Serra: a questão social capitaneada pelo programa Bolsa Família. Programa do governo federal destinado a suprir com renda mínima milhões de família carentes, o Bolsa Família parece representar um potencial de votos decisivo para a definição do futuro presidente, pelo cuidado que começou a ser tratado.

Em Porto Alegre, Dilma deu o tom de sua linha de ação: "Vou ressaltar o meu compromisso com a questão social, que foi e será sempre o que nos distingue dos nossos adversários. Não há apenas diferenças de cores, mas duas visões de mundo. A questão social não pode ser vista como um artefato eleitoral, a ser esquecido e abandonado na primeira oportunidade".

Em Curitiba, Serra apressou-se em assinar uma carta em que se compromete a manter o Bolsa Família, com o intuito de barrar os rumores difundidos pelo PT de que, se eleito, extinguiria programas de transferência de renda. Neste documento, o candidato foi mais longe: apresenta ações do governo Fernando Henrique Cardoso, como Bolsa Alimentação, Vale Gás e cadastro único dos programas sociais, para reivindicar a própria paternidade do Bolsa Família.

O governo federal coordena, hoje, quase uma de­­zena de programas sociais. Nem todos foram criados na gestão Lula, mas ganharam recursos, ênfase e pu­­bli­­cidade, tornando-se vitrine da ideologia petista. Sem­­pre são lembrados pelo presidente e seus aliados como a marca de um governo social, símbolos de uma administração voltada para o povo que deu certo. Dilma está difundindo esse conceito e Serra tenta não ser atropelado por ele.

De olho momentâneo no voto dos menos favorecidos, que são a maioria, os dois principais candidatos presidenciais parecem ter começado suas jornadas embaçados pela aparência dos fatos. Em vez de lançarem uma discussão séria sobre as causas que levam um país a ter de dar à parte significativa da sua população um auxílio financeiro mensal, para que estes excluídos matem a fome, escorregaram no caminho fácil do velho populismo dos períodos eleitorais, ao promoverem essa disputa pelo programa.

É evidente que o governo tem de ir ao encontro dos mais pobres. Mas essa política não pode ter um fim em si mesmo ou representar uma espécie de cativeiro eleitoral para aqueles que são beneficiados por ela. O Bolsa Família cumpre o seu papel quando socorre e sal­­va vidas da morte, da marginalidade e do crime. Agora, quando o programa vira um estepe social para suprir a incompetência e servir a interesses políticos escusos, passa a ser maléfico para essas famílias e para toda a sociedade.

A verdade é que os programas sociais brasileiros continuam lidando com os sintomas da pobreza e não com suas causas. O que o governo dá com uma mão tira com outra. Parte importante dos recursos dos programas destinados aos mais pobres é exatamente financiada por essa mesma parcela da população, por meio de um sistema tributário desigual. Esse é só um exemplo dessa intrincada equação econômica e social.

Se o governo brasileiro conseguiu avanços no combate à fome nos anos recentes, a erradicação desse e de outros graves problemas sociais só será atingida por meio de amplas reformas estruturais na distribuição de renda e na educação, começando pela tão ne­­cessária reforma tributária. Isso sim precisa ser o centro do debate da atual campanha presidencial.

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