Jair Bolsonaro chega à Suíça nesta segunda-feira para seu primeiro grande teste internacional: a participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Ele discursará na sessão de abertura do evento, na terça-feira, honra que nenhum presidente latino-americano teve até agora. O convite ao brasileiro e a posição especial que terá é sinal da atenção que a comunidade financeira internacional está dando ao Brasil neste momento de virada, após a devastadora crise econômica que o petismo legou ao país e que afastou o investidor estrangeiro.
No ano passado, Michel Temer também participou do evento e mostrou aos participantes que o Brasil estava voltando aos trilhos depois da recessão. O então presidente levava na bagagem indicadores positivos, como a inflação e os juros em queda, mas também alguns desafios, como o desemprego persistente e a reforma da Previdência. Um ano depois, no entanto, esses dois itens continuam a ser prioridades, e Bolsonaro quer mostrar ao mundo que está disposto a levar o Brasil ao patamar seguinte, com a aprovação das reformas e a geração de empregos.
O investidor estrangeiro não virá se o Estado brasileiro continuar a dificultar a vida de quem produz
Os dois grandes temas de Bolsonaro devem ser justamente a aprovação das reformas econômicas, especialmente a da Previdência, e a abertura do Brasil ao investimento privado estrangeiro, duas das principais plataformas do governo no campo econômico. O mercado que ouviu Temer em 2018, no entanto, já sabe que apenas as boas intenções não bastam. Bolsonaro também tem de convencer sua plateia de que tem as condições políticas para as mudanças que pretende implantar. O investidor estrangeiro não virá se o Estado brasileiro continuar a dificultar a vida de quem produz, e as reformas macroeconômicas são a única maneira de garantir um crescimento contínuo e sustentado para o país, afastando o risco de a dívida pública escapar do controle e mostrando que o Brasil não terá mais crescimento digno de foguete desgovernado, para citar duas capas emblemáticas da revista britânica The Economist, em 2019 e 2013.
Outro desafio do presidente será o de apagar a imagem negativa que parte da imprensa internacional – inclusive a já citada Economist – ajudou a criar a seu respeito, retratando-o como um autoritário isolacionista. No campo econômico, o Brasil tem o que mostrar, com sua intenção de elevar a participação do comércio exterior no PIB brasileiro dos atuais 23% para 30%, além de participar das discussões para remodelar o sistema multilateral de comércio, hoje em xeque diante de guerras comerciais e impasses dentro da Organização Mundial do Comércio.
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Mas Davos tem dado importância cada vez maior também à pauta social. O mundo espera do Brasil uma postura ativa nas discussões sobre mudanças climáticas, um dos assuntos que serão tratados em Davos, ao lado da questão migratória, em que o país já perdeu uma chance de protagonismo ao deixar o Pacto Global para a Migração. A situação venezuelana, após a nova posse do ditador Nicolás Maduro, será tema de um painel na quarta-feira, e o Brasil, na condição de líder dentro da esfera sul-americana, terá oportunidade de reafirmar seu compromisso com a democracia no continente.
Não há a menor dúvida de que as plataformas de Bolsonaro na área econômica serão bem recebidas em Davos. Dentre as nações emergentes, o Brasil está hoje bem posicionado para atrair o investimento estrangeiro, mas, depois da aventura petista, o mercado tende a ser mais cauteloso antes de retornar com força. Reformas, privatizações e concessões, abertura comercial são temas que enfrentam resistências internas, especialmente aquelas movidas a corporativismos, e que Bolsonaro precisa demonstrar ser capaz de superar. Tudo isso sem perder de vista a preocupação com outros temas vitais para a cooperação internacional.
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