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Editorial

Bons e maus sinais na economia

O discurso de posse do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é um tanto animador para quem tem observado os rumos da economia ao longo do primeiro mandato de Dilma Rousseff. A "nova matriz econômica" por ela implantada, como se sabe já há algum tempo, resultou em caos fiscal, inflação escapando do controle e pibinho: o que era o novo 7 a 1 (quase 7% de inflação contra 1% de crescimento) no meio de 2014 já está mais para 7 a 0. É a reversão dessa goleada, muito pior que aquela do Mineirão, que Levy e sua equipe – com Marcelo Barbosa substituindo Arno Augustin no Tesouro Nacional, e Afonso Arinos Neto no lugar de Márcio Holland como secretário de Política Econômica, entre outros nomes – tem o desafio de conseguir.

Em seu discurso, Levy teve pouco a dizer de positivo sobre os últimos quatro anos, mas fez referências elogiosas ao Plano Real e ao governo Lula – que teve o mérito de, durante boa parte de seus dois mandatos, manter a política econômica de Fernando Henrique Cardoso. O novo ministro ainda reforçou seu compromisso com a disciplina fiscal, que foi vilipendiada de todas as formas possíveis no primeiro governo Dilma, seja com a "criatividade contábil", seja com a vergonhosa aprovação, no Congresso, de uma anistia para que a presidente pudesse descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal sem ter de responder por isso. "O reequilíbrio fiscal já começou com a contenção dos gastos públicos", afirmou. No entanto, parte da conta do "reequilíbrio" que já foi feito deve ir para o bolso do trabalhador, com a mudança em benefícios previdenciários feita por medida provisória e uma possível elevação nos impostos; em vez disso, espera-se do governo que saiba cortar na carne, gastando menos com a própria máquina pública.

Empresários e outros líderes do setor produtivo que estiveram na posse ressaltaram um aspecto positivo do discurso de Levy: o fim da "era dos amigos do rei", como afirmou um deles ao jornal Folha de S.Paulo. Afinal, nos últimos anos a concessão de benefícios e desonerações, assim como a política de escolher "campeões nacionais" agraciados com todo tipo de camaradagem, basicamente seguiu o critério de quem gritava mais alto ou quem tinha as melhores relações em Brasília. Isso foi o que o país teve de mais próximo de uma política industrial – e mesmo assim ainda estava muito longe de ser algo digno desse nome. Sem a necessidade de ter de gastar atenção e recursos com os "favoritos" nesse "capitalismo de compadres", o governo pode se dedicar a criar uma genuína estratégia para a indústria nacional que beneficie o setor como um todo, em vez de agir guiado pelo patrimonialismo.

No entanto, ainda há muitas dúvidas sobre a autonomia que Levy terá para colocar em prática seu discurso. A própria Dilma Rousseff, que nunca admitiu o péssimo estado das contas públicas – consequência de irresponsabilidade e populismo incentivados pela própria presidente –, mandou um sinal preocupante: do seu descanso na Bahia, desautorizou o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que havia falado em novos critérios para o reajuste do salário mínimo. Barbosa não é exatamente um recém-chegado: trabalhou no governo petista por dez anos e ajudou a montar o programa econômico da candidata à reeleição. Certamente teve a chance de discutir o tema do salário mínimo com outros interlocutores do governo durante a transição do primeiro para o segundo mandato de Dilma. Mesmo assim, foi obrigado pela presidente a engolir suas palavras. Se esse episódio for sintomático de como será a relação entre Dilma e seus ministros da área econômica, só teremos a esperar, de 2015 em diante, mais do mesmo que temos visto nos últimos anos, testando a frase (que muitos atribuem a Albert Einstein) segundo a qual a definição de insanidade é realizar as mesmas ações repetidamente e esperar resultados diferentes.

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