O Brasil terminou os Jogos Olímpicos de Paris sem repetir o seu melhor desempenho da história, obtido três anos antes. Com três ouros, sete pratas e dez bronzes, o país ficou longe dos sete ouros conquistados tanto no Rio quanto em Tóquio, terminando no 20.º lugar no quadro de medalhas – ainda que o Comitê Olímpico Internacional não adote nenhum critério como oficial, a classificação por medalhas de ouro é a mais tradicional. Já na contagem do número total de medalhas, independentemente de cor, o Brasil sobe para o 12.º lugar entre as 206 delegações, ficando com apenas um pódio a menos que nos Jogos anteriores.
Como ocorre com qualquer nação que tenha um porte esportivo semelhante ou superior ao do Brasil, alguns atletas surpreenderam ao subir ao pódio, enquanto outros favoritismos não se confirmaram, o que é da natureza do esporte. Fato é que o país segue colhendo frutos do trabalho feito com vistas aos Jogos Olímpicos de 2016, e diversificando as modalidades em que coloca atletas entre os melhores do mundo. Há 20 anos, era praticamente inimaginável que houvesse brasileiros com chances reais – concretizadas ou não – de medalhas em esportes como canoagem, tiro com arco e tênis de mesa, sem perder fôlego em tradicionais carros-chefe olímpicos brasileiros, como o judô. Se o salto brasileiro não foi semelhante ao de outros países que sediaram os Jogos Olímpicos nas últimas décadas e hoje figuram sempre entre os mais bem-sucedidos no quadro de medalhas, como a Coreia do Sul e a Austrália, isso se deve às limitações naturais de um país emergente.
Colocar mais dinheiro no esporte de alto rendimento não terá todos os resultados possíveis sem um incentivo igual ou maior à ampliação da base de praticantes em cada modalidade
Dirigentes, atletas, comentaristas e torcedores agora avaliam os resultados de Paris e começam a projetar o ciclo de quatro anos que terminará em Los Angeles, em 2028. E a pergunta que tem de ser feita vai muito além da discussão casuísta sobre isenção tributária aos brasileiros que chegam da França com uma ou mais medalhas no peito. Se todos sabemos da importância do esporte como ferramenta de inclusão e mobilidade social, e do potencial inspirador de um campeão mundial ou olímpico, o que precisa ser feito para que o Brasil chegue a um patamar superior ao atual e possa sonhar com mais algumas dezenas de pódios e uma quantidade de ouros na casa dos dois dígitos?
A palavra “investimento” vem automaticamente à mente, mas a resposta não é tão simples. Colocar mais dinheiro no esporte de alto rendimento não terá todos os resultados possíveis sem um incentivo igual ou maior à ampliação da base de praticantes em cada modalidade, para que seja mais fácil descobrir e lapidar aqueles que se tornarão a próxima Rebeca Andrade ou o próximo Isaquias Queiroz. Modalidades que só recentemente começaram a experimentar sucesso precisam de bons planos para aproveitar a visibilidade recém-conquistada e não voltar à irrelevância quando os talentos atuais se aposentarem. O Brasil não tem condições de replicar absolutamente tudo o que levou algumas potências olímpicas ao nível em que estão, mas as boas experiências que podem ser reproduzidas por aqui devem ser colocadas em prática. E, como em muitos outros setores, o dinheiro público é insuficiente para essa tarefa; é preciso facilitar a participação da iniciativa privada.
As 20 medalhas de Paris, ou as 21 de Tóquio, não precisam ser o teto em um país cujo potencial humano é gigantesco, embora frequentemente desperdiçado. Se tivermos uma cultura que valorize o esporte por todos os benefícios que traz e que exalte aquela busca pela excelência que caracteriza os medalhistas olímpicos, uma boa estrutura de descoberta de talentos, e os recursos necessários para que eles se desenvolvam, nossas participações olímpicas serão motivo de cada vez mais orgulho e inspiração. E, mesmo que as medalhas não venham em profusão, teremos criado uma sociedade que faz do esporte uma ferramenta de cidadania – e isso não é pouca coisa.
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