A corrupção é um mal que se enraizou na vida pública e cuja extirpação vai depender em muito da postura da sociedade

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As para lá de suspeitas relações de Carlinhos Cachoeira, um dos chefes do jogo ilegal no Brasil, em diferentes esferas do poder público, prenunciam um clima quente para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito a ser instaurada nesta semana. Tal e qual o ditado "quanto mais mexe mais fede", os negócios mal-explicados de Cachoeira parecem ganhar novos contornos a cada dia, com desdobramentos e envolvidos em Brasília e também pelos estados. No Paraná, segundo reportagens publicadas pela Gazeta do Povo, os tentáculos do grupo tinham como mira a exploração dos serviços de loteria eletrônica, através de uma empresa ligada ao contraventor. A atividade só não prosperou em consequência da revogação, em 2004, durante o primeiro governo Requião, da resolução que autorizava a prática de jogos eletrônicos no estado.

Pivô da CPMI que está prestes a ser aberta, Cachoeira teria muito a contar sobre o modus operandi dos acertos de bastidores com políticos, empresários e governantes. Ações espúrias com objetivo de se locupletar à custa do dinheiro público. Na teia de interesses do empresário e seu grupo aparecem enredadas figuras públicas, como o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), tido e havido, até ser flagrado com conversas comprometedoras, como um dos bastiões da moralidade no Congresso. A questão que se coloca é sobre o rumo que a CPMI tomará no Congresso, diante dos interesses contraditórios que envolvem governo e oposição. O fundamental é que os trabalhos fiquem acima dos interesses partidários, sob pena de comprometer o seu resultado.

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Outro braço de atuação do contraventor pode estar ligado à empreiteira Delta, que também deverá ser alvo das investigações da CPMI, em razão das suspeitas de irregularidades em contratos de várias obras públicas. Para se ter uma ideia da influência da Delta, com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a empresa mantém 99 contratos que juntos somam R$ 2,5 bilhões. A reforma do estádio do Maracanã também vinha sendo tocado pela empreiteira, que, no fim de semana, anunciou a sua retirada do consórcio.

A desenvoltura da atuação de Cachoeira mostra a premência de uma higienização nas relações com o poder público, como forma de coibir os ilícitos que ocorrem com preocupante frequência. A corrupção é um mal que se enraizou na vida pública brasileira e cuja extirpação vai depender em muito da postura da sociedade.

Manifestações como as ocorridas no último sábado em Curitiba e em outras cidades em defesa da ética e da transparência na política sinalizam de forma saudável para uma conscientização maior dos cidadãos para a necessidade de mudanças. Na passeata de protesto sugestivamente denominada de Dia do Basta, os manifestantes reivindicaram medidas contra a impunidade. O fim do foro privilegiado para políticos, a caracterização da corrupção como crime hediondo, a implantação do voto distrital e a ampliação dos mecanismos de fiscalização foram algumas das propostas defendidas pelos participantes. Ainda que pontuais essas manifestações são importantes por sinalizar um indicativo de mudança no comportamento dos brasileiros, cada vez mais dispostos a extravasar a indignação contra os malfeitos cometidos pelos homens públicos.