Outubro de 2020 teve quase 400 mil novas vagas de emprego formal.| Foto: Ana Volpe/Agência Senado
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Desde 1992, quando o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi criado, nunca – nem mesmo nos anos de maior crescimento do PIB – o país tinha registrado um aumento de quase 400 mil vagas de emprego formais. O recorde veio em outubro deste ano, com saldo positivo de 395 mil novos postos com carteira assinada. O ritmo crescente na geração de emprego formal neste segundo semestre do ano permite até mesmo sonhar com um resultado positivo em 2020, anulando os efeitos devastadores que a pandemia de Covid-19 teve sobre os negócios no segundo trimestre do ano. Seria um feito extraordinário, mas que tem lá suas nuances e ainda pede um pouco de cautela.

Além do número absoluto geral, há dados animadores no Caged de outubro: a alta foi puxada por um setor cuja recuperação vinha sendo mais lenta, o de serviços, com saldo de quase 156 mil contratações. Todas as unidades da Federação tiveram saldo positivo, com destaque para São Paulo (119 mil), Minas Gerais (42 mil) e Paraná (33 mil). O temor de uma recuperação desigual, com setores da economia ou regiões geográficas deixadas para trás, pode estar se dissipando, especialmente se a área de serviços continuar apresentando resultados semelhantes nos próximos meses.

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Mesmo mais perto da saída, ainda estamos dentro do poço que o coronavírus cavou

É importante ressaltar, no entanto, que ainda estamos em um processo de recuperação do que foi perdido, não de um avanço sobre bases já bem estabelecidas. A pandemia e a recessão causada por ela ceifaram quase 1,6 milhão de empregos com carteira assinada, dos quais já foram recuperados pouco mais de dois terços, ou 1,09 milhão. Mesmo se considerarmos também os dados positivos pré-pandemia, do Caged de janeiro e fevereiro de 2020, o saldo ainda é negativo, com perda de 171 mil vagas. Se novembro registrar desempenho semelhante, o acumulado do ano passará para o campo positivo, mas dezembro ainda é uma incógnita.

O último mês do ano é tradicionalmente marcado por demissões, mesmo quando a economia vai bem – em 2010, por exemplo, o país cresceu 7,5%, mas o Caged de dezembro daquele ano registrou corte de 407 mil postos de trabalho formais. Na última década, não houve nenhum ano em que dezembro tivesse menos de 300 mil demissões a mais que contratações. O secretário de Trabalho, Bruno Dalcomo, acredita que desta vez pode ser diferente, pois muitos trabalhadores ainda estarão gozando da estabilidade prevista nos acordos de redução de jornada e salário ou suspensão de contrato de trabalho. Resta saber se o número desses empregados estáveis será suficiente para gerar saldo positivo em dezembro, e o mais importante: se esses trabalhadores não acabarão demitidos assim que passar o período de estabilidade, o que teria apenas adiado o momento de os números voltarem ao campo negativo.

Para que o país tenha um quadro mais amplo da situação do emprego durante essa pandemia, faltam os dados do IBGE, que considera também informais e subempregados para medir o índice de desemprego – e este, infelizmente, tem demorado a cair. Os números do Caged são motivo de alívio porque mostram que o estrago da pandemia talvez não seja tão grande quanto se temia, especialmente no auge da crise, mas também mostram que, mesmo mais perto da saída, ainda estamos dentro do poço que o coronavírus cavou. A prioridade de governo e sociedade é encontrar os meios para sair dele, garantindo a cada vez mais brasileiros a possibilidade de sustentar suas famílias por meio de um trabalho dignamente remunerado e evitando que aqueles hoje empregados voltem a sofrer com um dos maiores males sociais.