O Instituto de Engenharia do Paraná, que historicamente faz parte do processo de desenvolvimento e modernização do estado, dá início amanhã a mais uma empreitada. Denominada Cenário Brasil, e em parceria com a RPCGazeta do Povo e Universidade Federal do Paraná, possibilitará uma série de debates a respeito da questão cada vez mais crucial para o nosso futuro, a infra-estrutura. Os encontros, que serão mensais, têm como ponto de partida a discussão em torno do transporte. Técnicos e especialistas irão debater, na seqüência, os sistemas ferroviário, energético, hidroviário e de saneamento. Pretende-se, mais do que discutir problemas, apontar soluções, caminhos e alternativas. Pelo retrospecto das intervenções do IEP, pode-se desde já ter certeza de que os objetivos serão atingidos, até porque, como destacou o presidente do instituto, Luiz Cláudio Mehl, a intenção é fazer com que a discussão vá além do âmbito da engenharia, envolvendo toda a sociedade. É o começo de uma mobilização, esperando-se que o poder público venha a dar a devida contrapartida, fazendo a sua parte nesse mutirão para evitar novos apagões e , importante, recuperar o tempo perdido. Nessa interação com as autoridades nacionais e regionais, cabe à sociedade total engajamento, deixando de ser mera figurante.
Os temas, é evidente, não são novos. Vêm se arrastando pelas últimas décadas. A expectativa é de que pelo menos cem convidados participem dos debates, além de internautas, que poderão acompanhar os trabalhos e interagir durante as palestras, acessando www.iep.org.br o site da entidade.
O apagão rodoviário, o primeiro item da agenda, deixou de ser uma ameaça, segundo o IEP: o colapso das rodovias, tanto federais como estaduais, é patente. Para o engenheiro Adolfo Machado de Magalhães, que virá abrir o Cenário Brasil, o setor rodoviário precisa passar por uma completa reestruturação, em vários níveis, a partir de investimentos e planejamento para o setor.
Junte-se a isso as declarações do professor e engenheiro civil Paulo Tarso Resende, doutor em engenharia de transporte de logística pela Universidade de Illinois. Em recente entrevista a uma publicação especializada, ele abordou a acelerada deterioração das condições físicas das estradas, notadamente as federais, assinalando algumas questões, como o mix da frota brasileira "uma mistura perigosa de veículos novos, de alta performance, e velhos, de baixo desempenho". Esse é um fator controlável, ao contrário do aumento da distância média de transportes no Brasil, como ponderou. As novas fronteiras agrícolas e a interiorização da indústria obrigam o transportador a percorrer mais quilômetros.
Há que se computar também a logística para o professor, o país vive "um colapso logístico" e a própria pauperização dos quadros do Ministério dos Transporte. Por conta dos baixos salários, ocorre uma debandada dos quadros de pessoal. O setor público, como acentuou o próprio presidente Lula, não tem como segurar os profissionais mais gabaritados, e eles acabam no setor privado.
Reverter todo esse quadro é uma tarefa gigantesca, que exigirá um bom tempo para os resultados mais visíveis, mas não há como protelar uma tomada de posição. O único caminho é encarar os problemas com disposição, seriedade e, antes de tudo, competência.