As autoridades monetárias estão cautelosas quanto ao risco da inflação, em função da turbulência nos mercados mundiais e vão moderar o ritmo de redução da taxa de juros. Essa é a mensagem contida na ata da última reunião do Copom, divulgada pelo Banco Central: a queda dos juros foi de 0,50%, deixando aquele indicador financeiro em 15,25%. De fato, elementos de incerteza se acumulam no horizonte, como reconheceu o "Fed", o Banco Central dos Estados Unidos, e seu reflexo já chegou ao Brasil, com o recuo da Bolsa de Valores. Pode ter passado o ciclo de três anos de crescimento com estabilidade que baixou a inflação, favoreceu exportações e trouxe melhoria da renda.
Embora menos virulenta do que em 2002 que ao ocorrer em outro ano eleitoral causou danos à economia brasileira , agora a instabilidade ainda é moderadamente negativa, mas se desdobra por várias situações, como os primeiros reflexos dos preços do petróleo avaliados como sérios pelo ex-chairman do "Fed", Alan Grenspan. Essa situação se junta aos déficits gêmeos das finanças internas e das transações externas norte-americanas, de 1 trilhão de dólares. Outro temor é que o processo de aprendizagem do novo presidente do sistema de reserva federal daquele país, Ben Bernanke, leve os mercados a anteciparem o acerto de contas, forçando elevação mais salgada dos juros pagos pelo Tesouro dos Estados Unidos, com reflexos mundo afora, Brasil incluso.
Aqui o Banco Central expressa preocupação com a inflação, porém mais grave é o "xadrez cambial", que afeta a economia nacional porque, apesar da melhoria dos últimos três anos, o país ainda figura na lista dos vulneráveis: reformas estruturais não foram feitas, as despesas do setor estatal exigem o dobro da carga tributária dos países emergentes e a relação dólarreal opera como fator de estabilidade de preços. Em conseqüência, o país sustenta uma inflação baixa à custa de juros altos e taxa cambial desregulada.
Esse quadro levou diversos setores a pedirem um realinhamento capaz de reverter a queda nas exportações, que recuaram 16% apenas no primeiro trimestre, enquanto as importações aumentavam 22%. Tais segmentos, originariamente competitivos, viram suas margens corroídas com a distorção no câmbio. Pressionado, o governo acena com medidas compensatórias: fim da cobertura cambial para exportadores, linhas de crédito do BNDES e pacotes para reestruturação de débitos de produtores rurais.
Mas a questão central recuperação cambial foi descartada devido ao provável efeito sobre a inflação. Só que a persistência numa relação de troca sem equilíbrio custou caro ao Brasil no passado e pode se repetir agora: além de enfraquecer o saldo de comércio exterior, ela se traduz em estabilidade com baixo crescimento, situação agravada com a turbulência global.
Assegurar realismo cambial com o mínimo de efeitos inflacionários é o desafio para as lideranças e agentes econômicos, empenhados na busca de uma solução sustentável para nossas trocas externas.
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