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Depois de sete semanas de conflito, milhares de mortes e várias tentativas de cessar-fogo, Israel e o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, finalmente chegaram a um acordo para uma trégua mais duradoura, graças à moderação do Egito. O anúncio, feito na terça-feira, merece uma comemoração cautelosa: os termos da trégua podem ser um ponto de partida para uma estabilidade maior na região, mas ainda resta muito a discutir.

Os terroristas do Hamas basicamente concordaram em suspender os constantes ataques com foguetes e morteiros lançados sobre Israel, e que só não causaram um grande número de mortes porque os israelenses contam com um eficiente sistema de alerta e proteção. Já o governo de Israel aceitou aliviar o bloqueio imposto a Gaza tanto por israelenses quanto por egípcios, permitindo a entrada de ajuda humanitária e material de construção. Além disso, barcos pesqueiros palestinos poderão chegar a até seis milhas náuticas da costa (cerca de 11 quilômetros) – o limite anterior era de três milhas, e futuras conversações podem ampliar a permissão para 12 milhas, embora isso ainda seja menos que as 20 milhas estabelecidas (mas nunca implantadas) nos acordos de Oslo, em 1993 e 1995. A importância dessa concessão está no peso que a pesca tem na frágil economia da Faixa de Gaza. Os pescadores palestinos dizem que, se puderem levar seus barcos a águas mais profundas, poderão trazer peixes mais valiosos para abastecer os mercados da região.

Ficaram para depois as discussões sobre a construção de um porto e de um aeroporto na Faixa de Gaza, uma exigência do Hamas. A infraestrutura da região é precaríssima e o conflito recente só piorou a situação, com dezenas de milhares de construções destruídas, e o suprimento de água e energia severamente comprometido. Qualquer iniciativa que melhore as condições de vida dos palestinos – começando pela mais urgente, a reconstrução do país, e passando pela instalação de melhorias em setores como o transporte – precisa ser vista como um caminho que lhes permita prosperar. Quanto mais ficar evidente que só com um clima de estabilidade as pessoas poderão levar adiante suas vidas e buscar melhores condições, mais palestinos darão as costas ao extremismo que alimenta as hostilidades.

Um estado permanente de conflito não interessa ao palestino comum, mas é bom para o Hamas, que, consciente de que sua capacidade militar é muito inferior ao poderio israelense, depende da resposta de Israel para alimentar o ódio contra o inimigo. Do outro lado da fronteira, o cidadão israelense também está cansado de viver sob tensão, mas os políticos que vivem do discurso linha-dura colhem dividendos do terrorismo. É por isso que a trégua não pode ser vista de forma ingênua. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou que "qualquer esforço de paz que não ataque as causas profundas da crise fará pouco mais que deixar pronto o cenário para o próximo ciclo de violência". O Hamas não está renunciando à sua plataforma de destruir o Estado de Israel, e os israelenses não estão fazendo nenhuma concessão que torne mais provável a criação do Estado palestino independente. Assim, não se pode excluir o ceticismo de quem crê, por exemplo, que o Hamas esteja apenas buscando ganhar tempo para recuperar seu arsenal e reconstruir os túneis que os israelenses destruíram na campanha recém-encerrada, para depois voltar a atacar, a exemplo do que já fizeram no passado as Farc, na Colômbia. Os desdobramentos da trégua desta semana mostrarão quem realmente deseja a paz no Oriente Médio.

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