Assim como a intervenção do governo do estado e da prefeitura de Curitiba nas obras da Arena da Baixada, a intervenção do Comitê Olímpico Internacional na organização da Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, até que demorou para ocorrer. Os chefões do movimento olímpico não chegaram a usar os termos do secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke (para quem o Brasil precisava de "um chute no traseiro" para acelerar as obras da Copa), mas na prática é quase a mesma coisa. Thomas Bach, presidente do COI, nomeou uma espécie de "interventor" (a entidade evita a palavra e fala em "oferta de experiência e apoio adicional"): após reclamações de federações de vários esportes, caberá ao diretor-executivo Gilbert Felli acompanhar mais de perto as obras e pressionar a organização dos Jogos do Rio para que as coloquem no rumo certo. Aos cariocas restou apenas aceitar.

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É preciso recuar no tempo para entender como se chegou a essa situação. O então presidente Lula foi o grande cabo eleitoral das candidaturas do Brasil à Copa do Mundo e do Rio de Janeiro aos Jogos Olímpicos. Sediar os dois maiores eventos esportivos do planeta seria parte da mitologia do "nunca antes na história desse país" que norteou a máquina de propaganda lulista por oito anos, e para isso valia a pena dar um passo evidentemente maior que as pernas. O então presidente do COI, o belga Jacques Rogge, era um entusiasta da candidatura brasileira, que representaria a primeira edição dos Jogos na América do Sul, e assim o Rio acabou escolhido em 2009 – apesar de os cariocas terem obtido a menor pontuação, entre as cidades candidatas, na avaliação do Grupo de Trabalho do COI: com nota 6,4, o Rio perdeu para Chicago (7,0), Madri (8,1) e Tóquio (8,3).

Não se pode dizer que os membros do COI não sabiam no que estavam se metendo ao escolher o Rio. Em 2009, já sabiam que o Brasil também sediaria a Copa de 2014. Essa combinação de Copa e Jogos Olímpicos no mesmo país em dois anos já ocorreu outras três vezes. Em duas delas, a Olimpíada veio antes: em 1968, a Cidade do México sediou os Jogos e, em 1970, o país recebeu o evento da Fifa; em 1972, Munique foi a cidade olímpica, e em 1974 a Copa ocorreu na Alemanha Ocidental. Eram épocas em que os "padrões Fifa e COI" eram mais relaxados. Duas décadas depois, os Estados Unidos foram os anfitriões da Copa de 1994, mas não houve jogos em Atlanta, que pôde se dedicar exclusivamente aos Jogos Olímpicos de 1996. Desta vez é tudo diferente. O COI mandou a Olimpíada de 2016 para um país que só presta atenção ao futebol e que receberia, dois anos antes, uma Copa que teria seu jogo final justamente na cidade olímpica. Como não saber que todas as atenções se voltariam ao evento da Fifa?

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Os eleitores do COI também já sabiam que o Pan de 2007 tinha estourado em dez vezes seu orçamento inicial. Houve indícios de superfaturamento e desvios, mas o relator final do processo no Tribunal de Contas da União disse não ter encontrado motivos para punir a organização. O COI sabia dos problemas ocorridos durante o evento, como a precariedade dos campos de beisebol e softbol e o fraco domínio de outros idiomas pelos prestadores de serviços no Rio. Mesmo assim, votaram na Cidade Maravilhosa. Em 2009, algumas instalações do Pan, como o Parque Aquático Maria Lenk, eram exibidas como trunfo da candidatura por terem "padrão olímpico", mas hoje se sabe que quase nada da competição de 2007 servirá para 2016.

Os Jogos Olímpicos representam um desafio logístico muito mais intenso que a Copa. Durante pouco mais de duas semanas há dezenas de competições ocorrendo simultaneamente em uma única cidade. Em 2016, a mobilidade será muito mais importante que em 2014, pois a Copa é um evento diluído por várias sedes que recebem uma partida de futebol a cada quatro ou cinco dias. Na Copa, o desafio é garantir o deslocamento dos torcedores entre sedes, mas na Olimpíada a pressão recai sobre a rede urbana, que deve funcionar com eficiência o dia todo, por vários dias seguidos. Se o Brasil quase não dá conta das obras da Copa, que o país vê como mais importante que os Jogos Olímpicos, as perspectivas para 2016 não têm como ser das melhores. Já é constrangedor o Brasil ter de contar com ajuda por não conseguir organizar sozinho os Jogos Olímpicos, mas antes isso que fazer a Olimpíada da improvisação e dar um vexame mundial.

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