O organização não governamental Transparência Internacional acaba de divulgar o índice mundial de percepção de corrupção. O Brasil ocupa a 75.ª posição na lista de 180 países que traz em 1.º lugar a Nova Zelândia, considerada a nação menos corrupta do mundo pelo levantamento. O estudo deu nota 3,7 ao Brasil, o que indica um problema grave de corrupção. As notas são atribuídas por especialistas e líderes empresariais de pelo menos dez instituições, entre elas o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial. Vale dizer que a mesma organização, em pesquisa recente, concluiu, a partir de outra pesquisa, que de modo geral o brasileiro médio também tem a nítida percepção de que o país está contaminado pela corrupção.
Na análise do panorama global, a Transparência Internacional associa democracia e respeito aos bens públicos, destacando algo que o ranking evidencia: os desvios éticos na vida pública são menos citados em países de maior estabilidade política. A assertiva, no entanto, é desafiada quando confrontada com a realidade do Brasil. As falhas éticas não escapam aos olhos dos brasileiros, mas nem a constatação nem a dose de indignação que causam parecem ameaçar o estado de coisas na política nacional.
Especialistas em comportamento eleitoral atestam que as pesquisas que indicam a percepção de corrupção, como a da Transparência Internacional, não são um fator determinante para a decisão do voto. Ou seja: o cidadão brasileiro até se incomoda com o fato de um político fazer uso pessoal de verba pública ou de ofender outros princípios que devem reger a administração pública, mas esse não é esse um valor fundamental no momento de decidir quem será seu representante. Um quadro preocupante.
O fato de os brasileiros prestarem atenção aos atos de desvio da finalidade pública é muito positivo, mas a (não) reação seguinte, a aceitação de tais atos como algo natural, impede que a cultura política seja transformada pelo voto. Quando não separa o que é comum (corriqueiro) do que é normal (que segue a norma), o cidadão envia a seus representantes o sinal de que aceita a prática vigente.
Essa espécie de conformismo evidencia que o brasileiro dá pouco valor à vida cívica. Enquanto entoa o discurso recorrente de que "todo político é ladrão" ou de que "o poder público é corrupto" ou seja, o discurso de que o Estado e os homens públicos estão de um lado (o mau) e a sociedade do outro (o bom) o cidadão não se responsabiliza pela vida pública, distanciando-se das esferas de decisão e mesmo dos mecanismos de cobrança ao seu alcance.
Às vésperas de um ano eleitoral, não é demais lembrar que a fiscalização e a punição são duas formas de se impedir que a corrupção se dissemine. E que a melhor maneira de fiscalizar é participar da vida cívica em associações de bairros, organizações da sociedade civil, partidos políticos ou outras agremiações do gênero. Nenhuma transformação política é possível sem que os cidadãos procurem saber como estão sendo aplicados os recursos que não são do governo nem dos políticos. O Estado, afinal, não se autofinancia. Precisa dos impostos para manter a máquina pública e suas políticas.