Na visita oficial que o presidente Lula está fazendo à Inglaterra, o premier Tony Blair saudou o Brasil como um "protagonista-chave" entre os países do mundo. Mas nossa influência seria maior se o país tivesse aproveitado melhor as oportunidades como reconheceu um dos membros da comitiva presidencial, o ministro Luiz Fernando Furlan e dá conta a reportagem de ontem, sobre o encolhimento da classe média. Enquanto os países da vanguarda do crescimento reduzem a pobreza e ampliam a classe média, no Brasil essa faixa intermediária caiu de 31 para 27% da população economicamente ativa, afetando 10 milhões de pessoas.
A situação reflete o fraco crescimento dos últimos 20 anos, classificados como "as décadas perdidas" para o desenvolvimento, em função de políticas públicas erráticas. Por isso o desabafo do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, de que "o Brasil perdeu o momento do crescimento, e talvez a melhor janela tenha passado". O comentário já tinha sido feito pelo titular da área de exportações no Fórum Mundial de Davos, em janeiro último, reiterando sua insatisfação com a taxa de câmbio decorrente dos juros elevados.
De fato, os sinais disponíveis são de que o melhor período de liquidez internacional está passando, com o ajuste iniciado pelas autoridades monetárias dos Estados Unidos, já refletido no movimento de capitais voláteis que passam transitoriamente por nossas bolsas de valores. "O Brasil perdeu o sentido de urgência", reclama o economista José Alexandre Scheinkman, professor de Princeton, atacando dois problemas críticos: no curto prazo a insistência monetarista em juros altos; numa perspectiva maior, os baixos níveis de educação.
Outras críticas vão no mesmo sentido: "Enquanto os países estão competindo por investimentos produtivos, o Brasil não pode perder tempo", diz o dirigente da maior companhia mineradora do país. A economista Eliana Cardoso, considerada uma das inspiradoras do pré-candidato tucano José Serra, avalia que a colocação do país como "lanterninha dos emergentes" decorre de erros de escolha dos governantes, que vêm de tempos: "nos anos 80 esconderam o excesso de gastos sob a inflação; em meados dos anos 90 deixaram o câmbio fora de lugar para matar a inflação; e hoje repetem a façanha, com conseqüências graves para o crescimento".
A Federação das Indústrias do Paraná acaba de publicar um estudo sobre a desindustrialização, que chegou de forma precoce, porque atinge um país ainda em decolagem para o desenvolvimento. O caso da fábrica de motores que um grupo chinês quer carregar para fora do Brasil dramatiza o problema, porém ele já vinha se manifestando nos setores de móveis, madeira, calçados, alimentos e, agora, máquinas e equipamentos.
O baixo crescimento afeta não só a classe média mas o conjunto da população, porém seus reflexos são ampliados pela influência desse segmento médio na estabilidade sócio-política da sociedade.
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