Precipitaram-se nos últimos dias no Paraná as articulações visando à formação de uma aliança partidária espúria para dar suporte à reeleição do governador Roberto Requião. Dela participariam, além do partido de S.Exa., o PMDB, legendas caracterizadas como de oposição, como é o caso do PSDB. Representando este partido, figuraria como candidato a vice-governador o atual presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão. Em troca, o PMDB abriria mão de lançar candidato próprio ao Senado para facilitar a recondução do senador tucano Alvaro Dias ao posto.
O "acordão" em fase de montagem envolve também o apoio do governador e de seu partido à candidatura presidencial tucana de Geraldo Alckmin, desvencilhando-se de Lula e do PT, aos quais S. Exa. deve os méritos da eleição para o Palácio Iguaçu em 2002. Não custa lembrar, a propósito, que faz muito pouco tempo S.Exa. recusava publicamente qualquer aproximação com o ex-governador paulista alegando serem insuperáveis suas diferenças ideológicas.
Estamos diante, portanto, da mais esdrúxula repetição de uma prática que só faz aprofundar o mau conceito que a opinião pública devota à classe política no Brasil. Mais interessados em ganhar as próximas eleições, os políticos não se pejam de renunciar à coerência mínima que se exige daqueles que, tendo se apresentado como representantes do conjunto de princípios, propostas e posições políticas de suas respectivas legendas, consagraram-se na eleição passada. Agora, porém, aliam-se uns e outros ao "inimigo", pois a prioridade é garantir a vitória a qualquer custo ainda que esse custo esteja no cerne da democracia e seja a razão de seus mandatos, a confiança popular.
Tal quadro, em parte, decorre da tortuosa legislação político-eleitoral vigente no país, em cujo bojo se inclui a verticalização regra que obriga os partidos a se coligarem nos estados seguindo a mesma aliança feita em torno da eleição para presidente da República. Partidos aliados na disputa nacional podem, no entanto, concorrer sozinhos ou coligados nos estados. Esta brecha foi espertamente aproveitada pelo PMDB, que, ao não aderir a nenhuma coligação de nível nacional, vê-se livre agora para atrair em nível regional as legendas que bem entender ou puder.
Do alto do poder que a máquina pública lhe confere, o PMDB paranaense tratou, pois, de buscar apoio venha de onde vier, independentemente de cor e princípios partidários, tudo em nome da vitória nas urnas. E parecem não ser poucos os políticos dispostos a ceder à tentação de sepultar o seu oposicionismo e aliar-se ao adversário, pois que este caminho pode levá-los com maior facilidade ao paraíso eleitoral. É como pensam e agem, inclusive, algumas (felizmente não todas) das mais proeminentes figuras do PSDB paranaense.
Aproveitam-se todos do vácuo deixado pelo senador Osmar Dias, do PDT, cuja candidatura mantém-se, surpreendentemente, há meses pendente de definição, ora por questões de natureza política, ora por motivo de saúde. O fato é que, não tendo sido consolidada e em torno dela não tenham podido se agregar até agora os amplos segmentos de honesta e sincera oposição no Paraná, abriu-se espaço para o assanhamento daqueles que consideram o fisiologismo o meio mais fácil de ganhar a eleição.
Forma-se, deste modo, uma aliança oportunista em que prevalece um troca-troca de apoios escusos e à qual falta, para dizer o mínimo, coerência interna. Dançam no mesmo palco atores que até há pouco se diziam contrários em ideologia, métodos administrativos e modos de praticar a política. Não se importam, sequer, em dar alternativa às grandes correntes da opinião pública paranaense que se mostram descontentes e dispostas a manifestar pelo voto a vontade de mudar, ainda que ela, ao final, não prevalecesse. Suprime-se o sentido da democracia representativa, pois que não se dá opção ao eleitorado.
A opinião pública pede pouco aos políticos pede apenas aquilo a que já estão moralmente obrigados: ética e coerência. Então, coerência pelo menos, senhores!