Não fosse a operação de salvação conduzida à mão de ferro pelo Palácio do Planalto, até dias atrás já se poderia considerar previsível e iminente a degola de mais um ministro de Dilma Rousseff, envolto em denúncias de que teria traficado influência para faturar contratos de consultoria com o município de Belo Horizonte, do qual foi prefeito. Amigo pessoal da presidente desde os tempos em que ambos militaram na luta armada contra a ditadura militar, Pimentel é um dos poucos membros do gabinete a quem se atribui pertencer à "cota pessoal" de Dilma e dono de sua mais absoluta confiança.
Nunca antes na história deste país tantos ministros foram defenestrados em tão pouco tempo. À exceção de Nelson Jobim, que ocupava o Ministério da Defesa e saiu por declarar-se uma voz dissidente na estrutura política vigente, outros seis integraram a lista da faxina promovida pela presidente, todos acusados de desvios éticos semelhantes àqueles que envolveram Pimentel. O caso mais notório, neste sentido, deu-se com o primeiro dos demitidos, Antonio Palocci, o mais forte membro do gabinete até se descobrir que, assim como Pimentel, valeu-se da influência política para firmar milionários contratos de consultoria com empresas e governos. Salva-se, pois, o ministro Pimentel, mas enterra-se a coerência.
O episódio encerra o primeiro ano do governo período em que, sob um ministério na prática escolhido entre indicados pelo antecessor, Dilma Rousseff procurou seguir as regras traçadas pela ampla aliança partidária que permitiu sua eleição. A cada um dos partidos que compuseram a coligação coube um naco do poder central de tamanho proporcional à respectiva expressão político-eleitoral. Às verbas, vantagens e benesses gozadas pessoalmente pelos ministros ou pelos partidos que representavam, estendia-se às bancadas presentes no Congresso o compromisso de apoio e fidelidade ao governo. Felizmente, a presidente entendeu que, para assegurar a tal governabilidade que tal arranjo lhe garantia, não era necessário nem conveniente conviver com os desvios. E um a um, tão logo perdiam credibilidade diante das denúncias, foram caindo os ministros.
Aproxima-se o momento em que se espera que a presidente Dilma dará coloração própria ao seu governo. Afirma-se que, a partir de janeiro, ela deverá promover ampla reforma ministerial (talvez, até, com a eliminação de algumas das 38 pastas), de modo não só a conter a prática fisiológica que imperou na formação do gabinete, mas também de dar-lhe qualidade técnica e política, atributos que lamentavelmente não puderam ser notados neste primeiro período.
O país já cresceu o suficiente em termos sociais, econômicos e políticos e já reúne condições para abandonar o condenável troca-troca a que se deu, para justificá-lo, o nome de governabilidade. A verdadeira governabilidade não exclui a presença na estrutura do poder daqueles que ajudaram a construir a eleição mas é cada vez mais impensável que continue seguindo as pobres regras que culminaram com tantos escândalos e tanta instabilidade no governo.
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