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Alimentos no Mercado Municipal de Curitiba.
Alimentos no Mercado Municipal de Curitiba.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A demanda mundial por bens duráveis e não duráveis de consumo é determinada pelas necessidades dos seres humanos, a partir das quais a população vai ao mercado à procura dos bens capazes de satisfazer suas necessidades e desejos. As necessidades podem ser divididas em pelo menos dois grandes grupos: as necessidades vitais (sem as quais o ser humano perece) e as não vitais. As primeiras e mais importantes necessidades vitais são alimento, abrigo e repouso, de forma que os bens e serviços capazes de prover essas necessidades são demandados por todos os habitantes da Terra.

Nesse contexto, o primeiro dos mercados refere-se aos alimentos, cujo consumo mínimo adequado ao bem-estar individual varia em quantidade e combinação de produtos que garantam provimento mínimo diário de 1,2 mil calorias (para crianças) até 3 mil calorias (para homens adultos não sedentários). Conhecendo a população mundial, sua composição em termos de idade, sexo e atividade, é possível calcular com precisão qual a quantidade de calorias de que os 8,1 bilhões de habitantes do planeta necessitam diariamente e, por decorrência, qual a quantidade de alimentos que o mundo teria de produzir para que todos tivessem essa necessidade vital atendida.

A combinação de produtos para o atendimento da necessidade mundial é variada e há certa flexibilidade em sua composição, de forma que eventual redução de um produto permite a substituição por outro. Assim, os especialistas no tema sabem quanto o mundo tem de produzir para satisfazer a necessidade de alimentos. Porém, vale destacar que a demanda efetiva (procura real no mercado) por alimentos é menor que o total das necessidades porque uma parcela da população exerce demanda abaixo de suas necessidades pela falta de poder aquisitivo derivado de seu estado de miséria, pobreza e insuficiência de renda.

Governos, instituições globais e setores da iniciativa privada vêm discutindo como enfrentar o problema imediato da fome e do consumo insuficiente de alimentos por parte da população mundial

Como o nível de miséria e pobreza é conhecido, a demanda real efetiva também é conhecida, e é com esse dado que o sistema mundial de produção de bens alimentícios reage em termos de quantidades produzidas e ofertadas. Assim, se o mundo conseguir reduzir a miséria e a pobreza, a demanda real por bens alimentícios rapidamente subirá e forçará o aumento da produção, o que acabaria empurrando o produto e o emprego mundial para cima. Aqui entram duas questões: nos mais variados congressos públicos ou privados que ocorrem no mundo, um assunto recorrente é como os governos e a sociedade mundial poderiam atuar para reduzir a fome e melhorar o consumo para atender as necessidades mínimas de calorias; a outra questão é sobre quais as reais condições do planeta favoráveis ao aumento de produtos alimentícios.

Essa análise informa que há uma demanda reprimida por alimentos como decorrência dos índices de miséria e pobreza e, mesmo com tendência de diminuição da população global, o mundo teria de elevar a produção de bens alimentícios, caso se atinja o objetivo de reduzir a miséria e a pobreza no planeta. Como vem aumentando a pressão para que o mundo se alie no combate à fome e à pobreza – um exemplo é a proposta de Aliança Global contra a Fome que o presidente Lula lançou dias atrás, em reunião preparatória para o encontro do G20 –, há os que temem o risco de uma inflação no setor de alimentos sobretudo pelas restrições para o aumento rápido da produção.

Todos os anos, a população se depara com oscilações de preços de alimentos em função de outras razões, como frustração de safras, encarecimento dos insumos de produção (caso dos fertilizantes, que têm seus preços aumentados por conta de guerras), dificuldades logísticas, elevação tributária, aumentos de juros etc. De outro lado, a população precisa comprar alimentos em função de serem, como já dito, bens vitais, e assim os alimentos têm baixa elasticidade-preço, isto é, a demanda não cai substancialmente quando os preços sobem.

Dizendo de outra forma, há certa quantidade mínima de alimentos que os consumidores compram mesmo quando o preço dispara. Se necessário, os consumidores desistem de comprar outros bens e serviços, além de chegarem a fazer dívidas para adquirir alimentos, em casos extremos. Essa característica da baixa elasticidade-preço da procura nos alimentos faz a redução da produção ter forte efeito propulsor da inflação geral. Um episódio que merece ser lembrado foi o embate ocorrido em 2008 entre o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Banco Central, quando este anunciava a possível elevação da taxa de juros para combater a inflação interna – que, em boa parte, era causa pela alta nos preços dos alimentos. Mantega declarou, à época, que não concordava com a ideia de elevar a taxa de juros para conter o consumo e combater a inflação, pois a alta de preços deveria ser combatida elevando a produção e a oferta. No entanto, como o aumento da produção não é tão simples e não se faz no curto prazo, o problema estava exatamente na explosão dos preços enquanto perdurasse a insuficiência de oferta para atender a demanda.

Atualmente, governos, instituições globais e setores da iniciativa privada vêm discutindo como enfrentar o problema imediato da fome e do consumo insuficiente de alimentos por parte da população mundial. Essas iniciativas têm levado ao debate sobre propostas de políticas coordenadas entre governos, produtores e órgãos financiadores sobre propostas de ações para evitar que eventuais aumentos de preços acabem impondo mais sofrimento às classes mais pobres da população mundial. Entre os temas, estão propostas ligadas à ideia de “parceiros não conflitantes” (governos, produtores, financiadores etc.) na missão de aumentar a produção, elevar a produtividade, ampliar a capacidade de armazenagem, formar estoques reguladores, melhorar o sistema de distribuição global e prover financiamentos para o setor.

A fome é um flagelo global. Boas iniciativas que levem não só a um aumento na produção e na oferta de alimentos, como também a uma distribuição inteligente, proporcionando acesso mais fácil às parcelas significativas da população mundial que estão privadas de uma boa alimentação, são urgentes e merecem atenção de todo o mundo.

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