A larga vitória obtida por Lula assanhou alguns setores do governo a pregar o abandono de alguns pilares da atual política econômica e a sugerir uma ação mais complacente nesse campo, de modo a propiciar forte crescimento econômico ao país nos próximos quatro anos. "A era Palocci acabou", chegou a bradar o ministro Tarso Genro, um dos mais próximos do gabinete presidencial no Palácio do Planalto uma crítica ao rígido controle fiscal e ao aperto dos juros implementados durante os três anos da gestão do ex-ministro da Fazenda.
A Tarso Genro somaram-se outros dois conhecidos "desenvolvimentistas" da equipe de governo, a ministra Dilma Roussef, e o próprio atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não consegue esconder seu desconforto com a manutenção no posto do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, um dos poucos remanescentes da era Palocci e conhecido pela extremada ortodoxia com que conduz a frente monetária.
As manifestações daqueles ministros apenas dois dias após a consagração das urnas foram suficientes para gerar incertezas nos mercados, temerosos com a possibilidade de desarrumação da economia nacional em futuro próximo. Foi necessário que o próprio presidente Lula viesse a público para recolocar as coisas no lugar, garantindo que nada mudará.
A atitude de Lula, porém, não é suficiente para dirimir todas as dúvidas. A própria realidade aconselha ajustes de modo a compatibilizar a necessidade de imprimir velocidade ao crescimento defendida pelos "desenvolvimentistas" com a imperiosa exigência de se manter a estabilidade a qualquer custo. A questão é como fazer isso isto é, assegurar a contenção permanente da inflação em conjunto e concomitantemente com investimentos voltados para o fomento.
De fato, não há paradoxo entre as duas linhas. Ao contrário, se complementam como, aliás, já se poderia ter feito ao longo dos últimos anos se os governantes tivessem sido capazes para implementar as reformas modernizadoras requeridas como condição essencial.
O crescimento não acontece não apenas porque os juros são altos; na verdade, os juros são altos porque não há crescimento. Por uma simples razão: o baixo desempenho do PIB diminui a capacidade potencial de arrecadação do governo ao mesmo tempo em que os gastos obrigatórios continuam crescendo. É a diferença negativa entre o que se arrecada e o que se gasta que impõe ao governo o giro frenético da dívida pública, o que só ocorre se à base da alta remuneração dos juros.
Então, o problema está nos gastos. Gastos estes que são representados, em grande parte, por exemplo, pelo déficit da previdência social e pelos ralos incontidos da manutenção da própria máquina pública. O problema é de suma gravidade: enquanto as despesas gerais do governo aumentam à proporção de 6% ao ano, o país cresce a apenas 2,5%. A continuar assim, a catástrofe do desequilíbrio é fatal.
Portanto, se não houver esforço concentrado do Executivo e do Congresso, no sentido de fazer de modo completo as reformas necessárias, não há salvação. Só por meio delas podem ser gerados recursos para os investimentos infra-estruturais de que o país tanto se ressente. Sem elas, nem monetaristas nem desenvolvimentistas terão razão.
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