O Ministério das Relações Exteriores divulgou que o número de brasileiros vivendo no exterior em 2020 era de 4,2 milhões, um aumento de 35% em comparação com 2010, quando os brasileiros que emigraram eram 3,1 milhões. Porém, há quem afirme que o total de brasileiros espalhados pelo mundo pode chegar ao dobro do informado nas estatísticas oficiais. Ainda assim, tanto o total oficial quanto o crescimento da emigração são indicadores elevados e merecem ter seus motivos examinados na tentativa de entender por que tantos brasileiros desistem do país, mesmo com as agruras e dificuldades inerentes à opção de viver no exterior.
De qualquer modo e sem esgotar o problema, pode-se afirmar que há pelo menos quatro motivos capazes de explicar, quando não o problema todo, pelo menos parte dos motivos para abandonar o país, que é uma decisão corajosa e com muitos obstáculos pelo caminho. O primeiro motivo é o atraso econômico, político e social brasileiro, principalmente as baixas taxas de crescimento nos últimos 50 anos, longe de serem suficientes para oferecer perspectivas e oportunidades amplas de trabalho e crescimento pessoal para uma população que saiu de 94 milhões no início de 1971 para 214 milhões no fim de 2021.
A crença de que o Brasil não vai dar certo – esteja ela certa ou errada, exagerada ou não – levou e continuará empurrando brasileiros a emigrarem para nações que lhes parecem oferecer um futuro melhor
O baixo crescimento econômico nos últimos 50 anos se desdobra em medíocre aumento da renda per capita, baixos salários médios em comparação com as nações desenvolvidas, taxa de desemprego alta e pobreza. Nesse quadro, jovens e profissionais experientes não vislumbram um futuro promissor e a decisão de ir embora vai se firmando até se concretizar para grande parte deles. O segundo motivo é o peso do mastodôntico setor estatal, com seus altos impostos, excessiva intervenção na vida das pessoas e empresas, serviços públicos insuficientes e de baixa qualidade, corrupção generalizada, leis instáveis e confusas, insegurança jurídica e instabilidade política.
O terceiro motivo é a convicção de que o país não conseguiu nem conseguirá aplicar fórmulas para ter crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 5% ao ano, taxa necessária para almejar entrar no clube das nações desenvolvidas até 2050. A realidade dos últimos 40 anos, em especial após a redemocratização a partir de 1985 e da nova Constituição em 1988, tem levado muitos a não acreditarem que o Brasil será capaz de deixar a condição de país subdesenvolvido nas próximas três décadas, porquanto os vícios econômicos, éticos, políticos e culturais que impediram o êxito passado são os mesmos que, para os descrentes, irão impedir o êxito futuro. Algum desenvolvimento o país terá, mas sem que isso seja suficiente para convencer brasileiros a não emigrarem em busca de uma vida melhor.
O quarto motivo é uma espécie de sentimento que passou a povoar a mente de legiões de brasileiros: a sensação de que o país não irá mudar e não deixará de ser que o tem sido, com aquelas características que têm mantido o atraso e a pobreza, mesmo com abundantes recursos naturais e um elevado espírito empreendedor de seu povo. Certa ou errada, a percepção é de que a essência do Brasil consiste em baixo crescimento econômico e vida política ineficiente, imoral e corrupta. As pessoas deixam o país em função da realidade dos fatos que atingem suas vidas e de suas famílias, de um lado, e sua descrença no país, de outro. A crença de que o Brasil não vai dar certo – esteja ela certa ou errada, exagerada ou não – levou e continuará empurrando brasileiros a emigrarem para nações que lhes parecem oferecer um futuro melhor.
Esses aspectos todos podem ser analisados e vistos por ângulos diferentes, com mais ou menos pessimismo, mas as pessoas agem e reagem diante de seus problemas e dos fatos nacionais, da forma como elas interpretam esses fatos e das crenças que formam para si próprias. Os fatos negativos de suas vidas são alimento para formar crenças negativas sobre o país e desesperança com o futuro. Por isso, os altos índices de emigrantes que vão buscar um futuro fora do Brasil não revelam toda a gravidade do desencanto com o país, pelo simples fato de que há muitos outros que gostariam de ir embora, mas não o fazem por razões diversas. Não se trata de usar essa realidade para falar mal do Brasil gratuitamente, mas prestar atenção e tentar entender a essência do problema, suas causas e consequências e que soluções ajudariam a melhorar a realidade que aí está.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump