• Carregando...
 | Geraldo Falcão/Agência Petrobras
| Foto: Geraldo Falcão/Agência Petrobras

A Petrobras foi duplamente destruída pelo petismo: em primeiro lugar, pela corrupção generalizada que usou a maior estatal brasileira para irrigar campanhas eleitorais e alimentar a “propinocracia” que buscava perpetuar o projeto de poder do PT. Mas, ainda que não tivesse havido corrupção na empresa, inúmeras decisões de negócios foram tomadas de forma legal, mas completamente irresponsável. Um dos exemplos mais notáveis foi o represamento artificial do preço da gasolina em 2014, para evitar uma escalada da inflação que teria consequências nas pretensões de reeleição de Dilma Rousseff. Essa política causou danos enormes à empresa, que passou pelo vexame de ter se tornado uma das mais endividadas do planeta e ter adiado a divulgação de balanços porque consultorias independentes se recusavam a dar seu aval a números cuja precisão era impossível de atestar, tamanhas as perdas com a corrupção e com decisões desastrosas de investimento, como as refinarias de Pasadena, nos Estados Unidos, e Abreu e Lima, em Pernambuco.

Reconstruir a empresa, diante desse cenário de terra arrasada, é tarefa hercúlea a que se propôs a equipe chefiada por Pedro Parente, indicado para a presidência da estatal por Michel Temer em junho, depois que Dilma foi afastada pelo Senado. E o primeiro plano de negócios da Petrobras anunciado sob esta nova direção reflete essa tentativa de consertar o grande dano cometido durante as administrações anteriores, a começar pela estimativa de investimentos para os próximos anos. Se em janeiro de 2016 – ainda no governo Dilma e com Aldemir Bendine à frente da empresa – a Petrobras já tinha colocado o pé no freio, prevendo investir R$ 98,4 bilhões entre 2015 e 2019 (menos da metade do Plano de Negócios 2014-2018), agora houve nova redução: entre 2017 e 2021 serão investidos R$ 74,1 bilhões, abaixo das expectativas de analistas do mercado financeiro.

A Petrobras foi duplamente destruída pelo petismo

Mas, para uma empresa que em junho ainda devia quase R$ 400 bilhões – ou 5,4 vezes o Ebitda (o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 2015 –, investir de forma mais parcimoniosa não é suficiente. A Petrobras ainda pretende se desfazer de ativos entre 2017 e 2018, no valor de quase US$ 20 bilhões, o que providenciaria um alívio ao caixa da empresa. Como a estatal não está na melhor das situações para negociar preços, e por isso talvez não consiga arrancar as melhores propostas de compradores interessados, em breve será possível voltar a ouvir os gritos de “entreguista”, vindos da mesma esquerda cujas práticas colocaram a Petrobras na situação que forçou o seu enxugamento e que aplaude um certo ex-presidente que já confessou abertamente ter incitado seu colega boliviano a invadir e tomar para si as unidades da Petrobras naquele país.

A empresa ainda está diante de uma decisão importante, que deve ser tomada até o fim do ano: a eventual redução nos preços dos combustíveis, para que os valores domésticos estejam alinhados com o mercado internacional. Depois do represamento eleitoreiro de 2014, o governo teve de permitir reajustes para compensar as perdas da Petrobras, mesmo nos momentos em que o preço do barril estava em queda. Hoje, a gasolina brasileira está de 20% a 30% mais cara que a estrangeira, e a companhia terá de escolher a melhor forma de se recuperar: perder mercado e vender menos, mas a preços mais altos, ou cobrar menos pelo seu produto na esperança de atrair mais consumidores.

Independentemente da decisão específica – e não será uma tarefa simples determinar esta nova política de preços –, importa que ela seja guiada pela lógica de mercado, e não por arroubos populistas ou interesses outros que não o de reerguer a Petrobras. Que a época do uso político-partidário do patrimônio do Estado tenha definitivamente ficado para trás, dando lugar à seriedade na administração das estatais.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]