• Carregando...

Era só o que faltava. A turba de baderneiros que ontem invadiu a Câmara Federal, ferindo seguranças, ameaçando parlamentares e quebrando a pedradas e a golpes de pau as instalações da Casa, apenas deu continuidade à implosão moral e ética perpetrada pelo próprio Congresso contra si mesmo. Desrespeitando-se, deixou-se agora ser desrespeitado pela ação bandida do grupelho que, a pretexto de lutar por uma causa social, deu-se à incrível tarefa de agredir a lei e a ordem democraticamente constituídas.

Embora nada justifique o que, estarrecida, a Nação presenciou, é forçoso lembrar uma triste coincidência: o dia de ontem marcou o primeiro aniversário das denúncias de que corria solta a prática do "mensalão" entre deputados, inaugurando-se a torrente das vergonhas reveladas pelas CPIs que se seguiram. Um ano depois, a sociedade constata que a maioria dos parlamentares comprovadamente envolvidos foi absolvida pelo corporativismo – ou pela cumplicidade – de seus colegas, prevalecendo a impunidade.

Esta impunidade e a lassidão dos costumes políticos, tão claramente expostos no desenrolar da crise atual, certamente constituíram o fértil caldo de cultura para que tenham prosperado e se assanhado os que não têm pejo nem medo de violentar a lei. Onde não há autoridade nem se pratica o exemplo de absoluta veneração aos valores éticos e aos princípios do Estado de Direito, nasce a desordem. É inegável, portanto, ter sido este um dos mais poderosos fatores para que se tivessem produzido as cenas de selvageria a que assistimos.

Mas há outras razões, igualmente profundas, para explicá-las. Elas se situam no âmbito de alguns partidos políticos e na complacência de determinados governantes. De ambos, se alimentam o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e suas estratégicas "dissidências", como é, no caso concreto do ataque à Câmara, o tal MLST – Movimento de Libertação dos Trabalhadores Sem-Terra – liderado pelo pseudo-agricultor e agitador profissional Bruno Maranhão, membro da executiva petista.

Ao colocar o boné de um e de abrigar em sua alta direção o líder de outro, o presidente da República e o PT deram-lhes a bênção, mesmo conhecendo seus métodos extralegais de agir. Uma espécie de carta-branca que lhes permite invadir propriedades, destruir laboratórios de pesquisa, tomar repartições, depredar bens públicos, ferir e matar inocentes – sem que quase nunca tenham de se defrontar com as forças da lei e da ordem, mantendo-se impunes e livres para continuarem agindo a seu modo.

Não se deve esquecer, também, que o vandalismo que caracteriza os citados movimentos e seus congêneres encontra raízes fortes na frustração daqueles que, legitimamente, esperavam ver cumpridas as promessas solenes de reforma agrária. São os deserdados da terra, os milhões que acampam à beira de estradas, a massa de manobra dos radicais, que a utilizam para afrontar as instituições em proveito exclusivo de seus projetos políticos e ideológicos.

No fundo, o vilipêndio que se perpetrou ontem em Brasília e de que foi vítima uma instituição-símbolo da democracia, é fruto da falta de autoridade, moral e legal, que viceja no país. Parece termos chegado ao fundo do poço. É preciso recobrá-la com urgência. Cabe às instituições e aos dirigentes começar por dar exemplos de denodado, sincero e responsável amor à lei e à ordem, cumprindo o seu dever de mantê-las.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]