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O Brasil está a exatos mil dias do início da Copa do Mundo de 2014. O marco emblemático da contagem regressiva para a festa maior do futebol que deveria ser motivo para comemoração vem provocando, ao contrário, muita preocupação. Tudo em razão do limbo de incertezas em que está mergulhada a organização do evento, diante dos reconhecidos atrasos nos cronogramas previstos para as 12 cidades-sede. Estádios que receberão os jogos, alguns deles com obras que mal começaram, e projetos de mobilidade urbana que não saíram do papel traçam um panorama pouco animador do andamento dos empreendimentos daqui para frente. Pior ainda, ao dar uma passada de olhos no calendário, é a constatação de que a menos de três anos do seu início, inexiste uma estimativa realista sobre os custos finais da Copa no Brasil.

O descompasso brasileiro se torna ainda mais flagrante se comparado com empreendimentos semelhantes realizados por outros países. A Inglaterra, que será sede dos Jogos Olímpicos no próximo ano, anunciou, há cerca de dois meses, que 90% de toda a infraestrutura prevista já está pronta. Não bastasse isso, o comitê organizador inglês conseguiu reduzir em 1,8 bilhão de libras (R$ 4,5 bilhões) os custos inicialmente previstos. Um exemplo no qual o Brasil deveria se espelhar, uma vez que, além do Campeonato Mundial de Futebol em 2014, promoverá a Olimpíada em 2016.

O grande problema que se vislumbra com os atrasos para a Copa do Brasil é o risco da repetição de erros e desmandos cometidos quando da realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. O descontrole nos gastos chegou a patamares verdadeiramente absurdos, culminando quando do fechamento das contas ao número final de R$ 3,7 bilhões contra os R$ 410 milhões inicialmente previstos. No caso específico da Copa do Mundo de 2014, os atrasos de agora podem levar a uma pressão futura pela conclusão dos empreendimentos. Situação que traz em seu bojo a perspectiva de outros problemas, como a dispensa de licitação pela necessidade de urgência e o consequente encarecimento nos custos finais, culminando com a possibilidade de obras com menos fiscalização e qualidade; tudo em nome do tempo que ficou exíguo. O caso do Maracanã é bastante significativo: a sua modernização partiu de um custo de R$ 600 milhões, passou para R$ 956 milhões e está hoje em R$ 859 milhões, com dúvidas se ainda não apresentará novas elevações.

O Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal já manifestaram preocupação com a bola de neve de dinheiro que está virando a Copa. O temor das duas instituições é procedente diante de tantas incertezas e riscos de desmandos, como é de praxe ocorrer no país quando da realização de grandes empreendimentos. Em sentido contrário, o governo federal tem se manifestado reiteradas vezes de que tudo está caminhando conforme o previsto e que tanto os estádios como as obras de mobilidade urbana estarão prontos a tempo. O cumprimento dos prazos sem dúvida é importante, mas deve vir acompanhado de absoluta transparência e rigoroso acompanhamento na destinação dos recursos, evitando que o Brasil de antemão ganhe um título indesejado, o de campeão no mau uso do dinheiro público.

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