Uma vez resolvida a questão do nepotismo no âmbito do Judiciário, o ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal, declarou esperar que o Congresso estenda a proibição para os demais setores da administração pública, aprovando a emenda constitucional em tramitação na Câmara. As manifestações dos leitores são na mesma linha, apoiando a decisão da semana passada do STF, de encerrar a prática do nepotismo nos altos escalões do sistema judiciário e pregando sua aplicação também nos outros ramos e esferas da organização estatal.
O presidente da entidade nacional dos magistrados, juiz Rodrigo Collaço, endossa o posicionamento: "O país está em transformação, e a sociedade não aceita mais o desvirtuamento da função pública, exigindo que o governo seja provido por servidores qualificados, selecionados por mérito e empenhados em servir ao público com o mínimo de burocratismo e o máximo de eficiência".
Porém só com mobilização da sociedade o Legislativo votará essa proibição avalia o senador Antônio Carlos Magalhães, com sua experiência de quase meio século de atividade política. Para o especialista em políticas públicas Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, essa postura já existe e se intensificou após a decisão do Judiciário de eliminar o nepotismo. Prevendo para breve o fim da contratação de parentes em todo o serviço público, ele assinala que "a sociedade está mais atenta e, nessa medida, o comportamento derivado da nossa formação cultural vai perdendo espaço". Schwartzman admite que essa prática que vê no cargo público "uma propriedade particular do seu ocupante, derivada da história portuguesa mostra um Estado ainda pouco controlado pela sociedade", mas em retração pela modernização dos padrões republicanos e a competição global.
De fato, as funções eletivas são temporárias, e o agente político deve liderar uma burocracia organizada segundo o padrão do serviço civil público, vigente nas nações fundadoras da democracia contemporânea. A nomeação da parentela para cargos em comissão próximos ao governante retrocede ao estágio do patrimonialismo, quando a fazenda pública se confundia com o patrimônio pessoal do regente. Modernamente as sociedades se tornaram complexas, tornando imprescindível o aparato burocrático, mas, para Max Weber, o controle político da burocracia decorre de uma construção institucional que não prevê lugar para práticas antigas.
É por isso que comenta Alberto Dines "um magistrado ou governador que se proclama marxista e defende o nepotismo é um reacionário emblemático". No Paraná, correntes políticas já se movimentam, e um deputado pelo PT antecipou-se ao pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros de cancelamento de todas as situações de nomeação de ocupantes de cargos públicos por relações familiares apresentando proposta de emenda constitucional que põe fim ao nepotismo em todo o setor público paranaense.