Estamos chegando ao momento culminante do processo eleitoral, com o pleito de amanhã. A eleição, de fato, coroa a festa da democracia, regime de autogoverno adotado pela maioria dos povos no caminho da civilização. Terceira maior democracia do mundo em número de votantes 126 milhões de eleitores com seis disputas para o Congresso e cinco escolhas presidenciais em 21 anos, o Brasil exibe um ciclo sólido de estabilidade após a restauração democrática de 1985.
Nesse período tivemos avanços paulatinos, mas fundamentais, com o cadastro informatizado de votantes, a urna eletrônica e a apuração computadorizada, que reduziram o risco de fraude, destacando o Brasil ante outros países noutros aspectos mais desenvolvidos que o nosso. Apesar disso sobrevivem fatores que comprometem o objetivo central da escolha política selecionar os melhores para a liderança da sociedade.
O aspecto importante é que, ao ingressar no recinto de votação, o eleitor tenta projetar o futuro, porque, independentemente da sua faixa etária, a maioria procede com a responsabilidade do pai de família empenhado em escolher o para si e para os seus. As experiências de passado do candidato, sua legenda ou seu entorno influem, porém menos do que se imagina: a eleição é sempre um contrato com o futuro próximo, porque a qualidade dos líderes entra nos cálculos do cidadão quando decide seu voto.
Com efeito, o eleitor brasileiro médio quer ética na política, segundo pesquisa recente do Ibope; rejeitando tanto a fuga à responsabilidade quanto a desqualificação do adversário através de dossiês obtidos de forma ilegal; embora aceite as denúncias feitas com transparência, por ser assunto que interessa à "res publica". No primeiro aspecto, Max Weber deixou a memorável lição de que o líder é sempre responsável e, além de tudo, pela legislação eleitoral (mais rígida do que a lei comum), o candidato é o responsável final pelos atos praticados em seu comitê eleitoral.
No segundo aspecto, a fala comum do povo é que "a política que já foi arte com Ulisses, Tancredo, José Richa hoje o que tem mais são arteiros". O que levou o jurista e ex-ministro do Supremo, Célio Borja, a lamentar a perda do sentido de civilização, "quando parte considerável das pessoas que receberam o voto como representantes do povo têm conduta incompatível com um padrão mínimo de decência".
Neste sentido diversas entidades representativas fizeram cartilhas e divulgaram manifestos recomendando o voto responsável, com vistas à realização de eleições limpas. O chamamento à ética procede porque, no iluminismo, Montesquieu advertia que não se constrói uma sociedade baseada na virtude dos homens, mas na solidez das instituições. No entanto, instituições sólidas requerem pessoas virtuosas; "cumprindo ao cidadão se armar de força e constância", completava Rousseau.
Conscientes de que o voto representa o instante da decisão, vamos exercê-lo com espírito republicano; confiantes de que juntos, saberemos escolher o melhor para nosso estado e nosso país.